São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Consumidor da cidade apóia agricultor

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

Os produtores rurais contam com a simpatia da população urbana, revela pesquisa realizada pelo Datafolha, no início deste mês, com 438 consumidores em feiras livres, sacolões e supermercados da cidade de São Paulo.
Para 90% dos paulistanos, os agricultores estão deixando de saldar suas dívidas nos bancos por falta de condições financeiras.
Apenas 6% dos entrevistados tacharam os produtores rurais de caloteiros; 4% não souberam opinar.
A pesquisa, realizada antes do anúncio da renegociação das dívidas agrícolas, também apontou que 84% dos paulistanos acham que o governo federal dá ao campo menos atenção do que deveria.
Esta opinião foi mais frequente entre os paulistanos com curso superior (95%) e os que declararam ter renda maior que 20 salários mínimos (91%).
A falta de apoio do governo à agricultura foi apontada como o maior problema do campo por 43% dos consumidores.
Entre eles, 24% apontaram a necessidade de mais financiamentos para o campo e 18% atribuíram as dificuldades da agricultura às altas taxas de juros.
Os consumidores urbanos também destacaram, como principais problemas da agricultura, os preços (22%), a reforma agrária e a má distribuição das terras (14%) e a infra-estrutura precária (11%).
Um dos resultados mais curiosos da pesquisa foi a associação do agricultor com imagens que caracterizam desfavorecimento econômico ou social.
Essa relação foi feita por 23% dos entrevistados.
Questionados sobre a primeira idéia que lhes vêm à cabeça quando se fala em agricultor, 9% responderam "sofrimento-dificuldades", 9% citaram "pessoas esquecidas pelo governo" e 3% associaram o agricultor ao trabalho árduo.
Sobre os pecuaristas, a maioria dos consumidores revelou desconhecimento (40%).
Outras idéias, algumas delas negativas, foram citadas. Para 3% dos paulistanos, os pecuaristas são ricos, 2% os classificaram de latifundiários e 2% acham que esses fazendeiros são responsáveis pela alta do preço da carne.
A associação dos pecuaristas com latifúndio é maior entre os entrevistados com curso superior (7%).

Cronologia da crise
A derrubada da TR (Taxa Referencial) como indexador das dívidas agrícolas pelo Congresso Nacional, em maio passado, foi o estopim do conflito entre os agricultores e o governo.
Como represália, o Banco do Brasil imediatamente suspendeu os financiamentos agrícolas.
O governo, a bancada ruralista (grupo formado por cerca de 130 deputados) e as lideranças rurais iniciaram uma longa negociação, só concluída este mês, com o anúncio das regras para refinanciamento das dívidas agrícolas.
O fisiologismo da bancada ruralista e a campanha de "caça às bruxas" movida pelo Banco do Brasil contra os devedores do crédito rural embaçaram a visão do governo sobre a crise agrícola.
Enquanto a administração do Banco do Brasil, preocupada em sanear seus balanços, vendia a imagem do "agricultor caloteiro", a bancada ruralista aproveitou-se da crise do campo para fazer barganhas políticas.
Em julho passado, para pressionar o governo, uma marcha de agricultores atravessou o país e chegou a Brasília com cerca de 900 caminhões.
A partir daí, o governo adotou um discurso mais conciliador e o presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que era preciso separar o joio do trigo na questão agrícola.

METODOLOGIA: A pesquisa do Datafolha é um levantamento estatístico por amostragem probabilística. O levantamento foi realizado nos dias 3 e 4 de outubro últimos em sacolões, feiras livres e supermercados de São Paulo. Foram entrevistadas 438 pessoas. A direção do Datafolha é exercida pelos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi.

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Sobre a pesquisa na pág. 6-3

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