São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995 |
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Por que fui demitido por Cabrera
JORGE RUBEZ "O político pensa na eleição seguinte; o estadista na geração seguinte"James Clarke Depois de fundar e presidir durante dois anos a Câmara Setorial de Leite da Secretaria da Agricultura de São Paulo acabo de ser demitido pelo secretário Antonio Cabrera. Como ocupei um cargo público, sinto-me obrigado a dar uma satisfação à sociedade sobre os incidentes. Como o secretário não teve a dignidade de me receber para explicar os motivos de sua decisão, sou obrigado a concluir que ele me demitiu da presidência da Câmara por falta de espírito democrático. Isto é um pecado mortal para um jovem que aspira a cargos mais elevados na política nacional. Essa falta de espírito democrático do secretário foi revelada nas críticas que fiz a ele, por meio da imprensa, sobre a redução do ICMS no leite longa vida e a tentativa de se introduzir esse tipo de leite no programa para crianças carentes. Se a crítica é um direito constitucional e inalienável de qualquer cidadão, cabe ao verdadeiro homem público recebê-la como símbolo da liberdade de expressão. Mas o secretário deu provas de que não pensa da mesma maneira, preferindo me destituir do cargo -o qual nunca fiz questão de exercer-, de forma rancorosa, abrupta e passional. As minhas críticas eram mais do que justas, principalmente pelo fato de serem em defesa do produtor de leite especializado, o único que tem condições de redimir a pecuária leiteira nacional do atraso em que se encontra. Sinto-me orgulhoso de ter sido demitido por defender a classe que represento. Devo explicar ainda que a redução do ICMS no leite longa vida jamais foi apresentada na Câmara, órgão justamente criado para discutir os assuntos ligados ao leite. Esta é a única razão de sua existência. Soubemos da decisão pelos jornais. O mesmo aconteceu no episódio da tentativa de inclusão do longa vida no programa Campo-Cidade. Por acaso ficamos sabendo desse trabalho, típico de bastidor, na ante-sala do gabinete do secretário. Tudo isto estava sendo feito sem o conhecimento da Câmara, certamente porque interesses muito fortes estavam em jogo. São fatos estranhos que somente serão esclarecidos quando as galinhas tiverem dentes. Se um dia o programa Campo-Cidade vier a ser abastecido com leite longa vida, nossas crianças carentes correm o risco de beber leite importado da Europa. O leite pasteurizado gera emprego aqui no Brasil e não lá fora. Pode ser essa a tendência oculta dos acontecimentos. Foi por essas e outras que todos os membros da Câmara Setorial do Leite solidarizam-se com seu presidente e pediram demissão. Melhor sair do que ser rainha da Inglaterra, aquela que reina, mas não governa. Texto Anterior: Agrotóxicos em alta; Fora do previsto; Boa receita; Ovos para o Oriente; US$ 500 mil; Aposta do cacau; Caça à bruxa; Política em Viçosa; Mais café; ICMS ajuda; Milho no balcão; Mais caro Próximo Texto: Simental capixaba rende R$ 132 mil Índice |
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