São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Acreditem no governo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O que faltava era o estopim. Uma ação como esta:
- Diolinda, mulher do líder dos sem-terra, foi presa em Teodoro Sampaio. Antes de seguir para a prisão, ela disse que a sua única preocupação era com o filho de dois anos.
Cid Moreira, cruel:
- A mulher do líder dos sem-terra vai para a cadeia.
O marido e os demais estão "foragidos", "procurados". E não se trata de outra coisa que não do "conflito".
- Uma população, ela não mede as consequências. E essas consequências podem ser as mais diversas.
- Há uma radicalização. Os conflitos estão se agravando.
- Nós precisamos de um clima de paz. Qualquer ação extremista... todas as ações radicais atrapalham.
Em apelo patético, ainda o presidente do Incra:
- Acreditem no governo, que o governo vai acelerar a reforma agrária.
Coincidência ruim -pedir crédito e oferecer prisão.

Ser feliz
O prefeito está com o bloco na rua. O túnel, a Faria Lima, as multas aos fumantes. Mas o melhor está por vir -ou começa a vir aos poucos.
É "o maior programa social do país", segundo a propaganda na Manchete, ontem.
Nada de concreto. Também poucos carros. E muitas, muitas faces morenas ou negras. É o projeto Cingapura, que até ganhou um rap. A letra:
"Barraco virou casa/ barraco virou casa/ barranco virou rua/ barranco virou rua/ tirou miséria de lá/ sem me tirar do lugar/ Cin-ga-pu-ra..."
É a verticalização das favelas -que não tira o trabalhador do lugar. A verticalização que Luiza Erundina não fez.
O eleitor-alvo é aquele que os petistas tinham como cativo. Tanto é que o rap brinca com o bordão de Lula:
"O que eu quero é ser feliz/ andar tranquilamente na favela onde eu nasci."
No final, outra vez:
"Eu só quero é ser feliz..."
O político Paulo Maluf, em êxtase nos debates de televisão, não tem medo de ser feliz.

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