São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Megacidades atuam como 'parasitas', diz estudioso

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

As megacidades estão enfraquecendo os Estados nacionais ao se tornar uma espécie de "parasitas" dos países, afirmou ontem o francês Ignacy Sachs, economista e cientista político.
Sachs participa em São Paulo, junto com estudiosos do mundo inteiro, do seminário "Globalização, (Des)Ordem Internacional Emergente e Megacidades", no Memorial da América Latina.
O futuro dos países na era da globalização, segundo Sachs, dependerá da função exercida por suas megacidades, se parasitas das riquezas nacionais ou geradoras de progresso.
Megacidades são áreas metropolitanas com 10 milhões de habitantes ou mais. Estudiosos presentes ao seminário avaliam que as megacidades tendem a se tornar figuras independentes dos países onde estão, criando uma nova rede de poder que enfraquecerá os Estados nacionais.
"Não se trata de negar a globalização, mas de criar um novo modelo", declara Sachs, que dirige em Paris a Escola de Estudos em Ciências Sociais.
O norte-americano Barry Weisberg, advogado especialista em segurança pública, disse que as megacidades tornaram-se centros de conflito e de poder incontroláveis.
Segundo Weisberg, "as megacidades funcionam como parasitas". Ele disse que, para sobreviver, por exemplo, elas gastam muito mais recursos dos países (energia, alimentos etc.) do que dão em troca gerando riqueza.
Weisberg considera que elas são uma nova forma de organização humana jamais vista na história. Por isso, não se enquadram nos sistemas políticos e econômicos tradicionais. Segundo ele, os governos precisam encontrar uma nova forma de administrá-las.
Sachs afirmou que apenas os "vencedores" estão participando dos efeitos positivos da "economia global". Para Sachs, o futuro pode ser desastroso se não possibilitar "a inclusão dos perdedores".
Esses "perdedores", segundo ele, formam as grandes massas de pessoas pobres das megacidades. Sachs abriu o encontro afirmando que é uma obrigação dos estudiosos das metrópoles pensar num modo de reverter os efeitos negativos da globalização.
O seminário é um encontro preparatório para a Conferência das Nações Unidas sobre Cidades, que será realizado em junho do ano que vem em Istambul, Turquia.
O economista Luciano Coutinho, da Unicamp, afirmou que a globalização transformou os mercados financeiros em "ditadores dos rumos" da economia mundial.
Segundo ele, circulam no mundo diariamente US$ 30 bilhões em capitais que têm "obsessão" por aplicações de curto prazo e em diferentes países. "Isso pode provocar grandes acidentes desorganizadores do sistema internacional."

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