São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Viúva abre baú de imagens de Orson Welles

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

O maior clichê sobre Orson Welles (seu amor pela magia) talvez seja a maior verdade que existe a seu respeito. A arte de esconder, transformar e fazer surgir objetos e pessoas foi uma paixão que de certa forma atravessa toda a obra do autor de "Cidadão Kane".
A magia remete a um prazer infantil ao qual o cinema não está imune, e nem os filmes de Welles. Mas ele convive com uma dura realidade do cinema: a tensão com o sistema (produtores, financiadores) que, desde os anos 40 bombardeou o trabalho de Welles.
"Orson Welles - A Banda de um Homem Só", documentário que tem como figura tutelar a viúva de Welles -Oja Kodar, justamente- empenha-se em reconstituir, basicamente, os últimos dez anos de vida do cineasta.
Empenha-se em colocar a ênfase nesses dois aspectos com os quais conviveu intensamente: a ilusão (própria do cinema) e a desilusão.
Esta segunda, vem da simples impossibilidade de filmar. Vemos um Welles transformado em personagem quase circense, objeto de debates e homenagens. Mas elas não levam a parte alguma. São, de certa forma, a constatação de uma morte em vida: o último Orson Welles seria um homem fadado ao silêncio.
É como uma conspiração que se cria contra ele. Ora, os filmes permanecem incompletos, ora os negativos desaparecem, ora, com mais frequência, os financiadores é que somem.
O silêncio e o nomadismo de Welles, sua face de "gênio incompreendido", constituem outros lugares-comuns a seu respeito. Mas isso não lhes diminui a verdade.
Oja Kodar e Vassili Silovic não trapaceiam com as imagens que têm. Lá está o Welles megalomaníaco, excêntrico, egocêntrico. Mas, acima disso, o artista extremamente frustrado pela impossibilidade de concretizar suas idéias.
O conjunto nos traz uma imagem sempre fugidia, em movimento. Como se Orson Welles se oferecesse todo o tempo à captação. Mas, como em seus filmes, uma captação em labirinto. Ele se mostra, ao mesmo tempo, como cineasta, ator, intelectual, mágico. E nômade.
O exemplo pode vir de uma frase que diz, aproximadamente assim: "Eu amo Hollywood. Infelizmente, não foi um amor correspondido".

Filme: Orson Welles - A Banda de um Homem Só
Produção: Alemanha
Direção: Vassili Silovic e Oja Kodar
Onde: hoje, às 21h30, no Grande Auditório do Masp; falado em inglês e alemão, legendas em alemão

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