São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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O big bang do metaverso

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A palavra "metaverse" está para os anos 90 como "cyberspace" para os anos 80. O inventor da palavra é Neal Stephenson, que em seu romance de ficção científica "Snow Crash" (Bantam, 1990) apresenta uma rede de realidade virtual em três dimensões, onde as pessoas enxergam ruas, edifícios, paisagens e passeiam por eles.
O metaverso é uma espécie de colonização do informe cyberspace. A idéia meio abstrata de William Gibson, autor de "Neuromancer", de um espaço que é um não-lugar -como diz o escritor Bruce Sterling, cyberspace é o lugar onde você está quando fala ao telefone- é substituída por um espaço de simulação onde você pode escolher um cenário e uma "encarnação", um personagem para representá-lo, apelidado de avatar.
Alguns destes mundos animados que estão surgindo na Internet são apenas interfaces de "chat" (conversa) em duas dimensões. Outros são experimentos que precisam de computadores sofisticados para serem visualizados.
A criação do VRML (uma linguagem em três dimensões para a World Wide Web que surgiu este ano) tornou possível e próxima a construção de mundos na Internet.
Entre as experiências ainda um pouco cruas em VRML que se pode encontrar na Web está o Inter-Galacticum, inspirado no Black Sun do romance de Neal Stephenson.
Há ainda a Construct (http://vrml.arc.org/) que constrói modelos como igrejas, parques etc. para serem visualizados na Web. Ou a Virtual SoMa, modelo em três dimensões de um bairro de São Francisco.
Na Itália a praça principal da cidade de Siena foi modelada em VRML e pode ser vista no endereço http://www.planetitaly.com).
Os "chats" com cenário são uma aplicação ainda mais primitiva da idéia de paisagens e avatares controlados à distância, mas estão cada vez mais populares. O primeiro a surgir foi o Worlds Chat (http://www.world.net), mas agora tem um até na Compuserve, o WorldsAway (http://www.worldsaway.com), obviamente um clone do Worlds Chat.
"Snow Crash" é uma referência onipresente na Web, das páginas de "meus livros preferidos" aos press-releases de empresas como a Worlds. O endereço http://www.metaverse.com foi registrado por Adam Curry, ex-VJ da MTV. A popularidade de Stephenson na Internet é tão grande que ele mesmo inventou a expressão "cyberlebrity" para definir sua fama virtual. A página "Spew" (http://www.spewww.com) homenageia o conto com o mesmo nome de Stephenson.
A ironia disso tudo é a que a realidade virtual, expressão inventada pelo cientista Jaron Lanier, não havia "colado" de verdade até então. Aquelas luvas e óculos "new age" e todas aquelas capas de revistas e filmes (lembra de "O Passageiro do Futuro") não foram suficientes para tirar a RV do laboratório para a mesa do cidadão comum.
Continua custando uma fortuna um equipamento de realidade virtual, algo em torno de US$ 20 mil. Lanier (http://www.well.com/user/jaron/index.html), que provavelmente foi o primeiro cientista que virou pop (ele compõe músicas para Philip Glass e usa dreadlocks), foi demitido de sua própria companhia, a VPL, além de perder a patente de suas invenções.
Dá impressão que o conceito de realidade virtual chegou adiantado, antes de encontrarem um uso para ele. Havia aquela tecnologia, ela tinha aplicações técnicas, como visualização de modelos, mas ninguém sabia muito bem como fabricar entretenimento com ela. Colocada em rede, a realidade virtual parece possível e mais interessante.

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