São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 1995
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Votação estimula separatistas da Bélgica

DA "REUTER"

O referendo no Québec empolgou os separatistas francófonos belgas. Eles esperam que o plebiscito sirva como estímulo para o movimento de secessão existente no país.
"Se o Québec optar pela soberania, será um exemplo a ser seguido pelos francófonos separatistas belgas, que dará dinamismo ao nosso grupo", disse Maurice Lebeau, presidente do Movimento Valão pelo Retorno à França.
O grupo deseja que a Valônia, região do sul da Bélgica de maioria de língua francesa, se separe do país e volte a domínio francês, o que ocorria até o fim do século 18.
Se, entretanto, o Québec votar contra a secessão, diz Lebeau, não haverá problema, pois "houve um debate democrático sobre se comunidades artificiais como Canadá e Bélgica devem continuar".
O movimento, na ilegalidade, ganhou recentemente apoio discreto de políticos importantes do país.
José Happart, principal líder regionalista belga e favorável à soberania do Québec, acompanhou a votação no Canadá. Ele foi como vice-presidente da delegação do Parlamento Europeu.
"Happart não quer a independência da Valônia, só mais autonomia para região. Mas ele apoiou o 'sim' no Québec", disse um porta-voz do político belga.
Happart foi prefeito de Fourons, uma pequena cidade francófona incrustada no Flandres Ocidental (noroeste), onde mais da metade da população fala flamengo.
"Existe uma lógica em pedir mais autonomia se, em um mesmo Estado, existem diversas pessoas com diferentes línguas e afinidades", disse um amigo próximo de Happart.
Para alguns membros do Partido Socialista, francófono belga, o mesmo de Happart, é natural que a população da Valônia seja simpática à causa do Québec.
Analistas políticos concordam que não existe a menor chance de a Bélgica permitir a secessão de alguma de suas nove Províncias.
Para evitar choques culturais, na década de 60 reformas constitucionais estabeleceram três regiões -Flandres, Valônia e Bruxelas- com instituições autônomas.
Em 1992, o Parlamento belga aprovou a mudança do país para Estado federal.
"Isto permitiu uma paz cultural duradoura", afirmou um especialista belga em política.
O país é culturalmente dividido entre flamengos e valões.

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