São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Megacidades sofrem com globalização, diz secretário

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Política Urbana do Ministério do Planejamento, Jorge Francisconi, disse ontem que as megacidades do Terceiro Mundo sofrem mais fortemente os efeitos perversos da globalização por causa do atraso tecnológico.
Isso faz das megacidades no Terceiro Mundo ilhas isoladas de progresso e locais que atraem migrantes que não encontrarão trabalho. "Ruiu o sonho do emprego para quem migrava", disse.
O secretário participou do seminário "Globalização, (Des)Ordem Internacional Emergente e Megacidades", no Memorial da América Latina, em São Paulo.
O encontro, que termina hoje, é preparatório para a Conferência das Nações Unidas sobre Cidades, que ocorrerá no ano que vem em Istambul, Turquia.
Francisconi disse que o acesso à tecnologia diferencia as megacidades do Primeiro e do Terceiro Mundo: "Nos Estados Unidos, de uma pequena cidade de Ohio você se conecta facilmente à Internet (rede mundial de computadores)".
Segundo ele, no Brasil, fora dos grandes centros urbanos, as dificuldades de telecomunicação ajudam a criar problemas sociais.
O secretário citou, como exemplo, a falta de telefones em Samambaia, que é uma cidade satélite de Brasília.
Francisconi acredita que, no futuro, viver nas megacidades no Primeiro Mundo poderá ser "dispensável". Os países pobres, porém, deverão continuar a ter em suas megacidades fontes que atraem e excluem as pessoas ao mesmo tempo.
O norte-americano Barry Weisberg, advogado especialista em segurança pública, afirmou que Francisconi tem razão ao considerar o atraso tecnológico gerador de desigualdade, mas afirmou que as megacidades do Primeiro Mundo também enfrentam esse problema.
"Em Los Angeles, as gangues de jovens e os pobres não têm acesso à Internet nem a outros avanços tecnológicos. Eles simplesmente estão excluídos como os marginalizados pela globalização no Terceiro Mundo", disse.
Segundo Weisberg, apenas "o mundo do homem branco americano" usufrui dos efeitos positivos da globalização.
Classe média
A cientista política Sophie Body-Gendrot afirmou que apenas uma aliança entre a classe média e os pobres marginalizados pela globalização nas megacidades pode evitar guerras civis nos grandes centros urbanos.
Gendrot é professora da Universidade de Sorbonne, de Paris, França.

Texto Anterior: Criança é ferida em shopping durante show
Próximo Texto: Krause pede consciência ecológica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.