São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995
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Não siga à risca os conselhos de Tim Maia

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Era só uma questão de tempo.
O assassinato, semana passada, da estudante Cristiane Gaidies, 20 -a moça morta com um tiro nas costas ao tentar furtar um toca-fitas (enguiçado, diga-se), a fim de trocá-lo por crack-, trouxe à tona uma sinistra constatação: o crack saiu das calçadas do centro da cidade e finalmente chegou às mãos dos rebentos da classe média paulistana.
A primeira vez que ouvi falar nessa droga nefasta dos demônios foi há uns quatro anos atrás -e de maneira assaz surrealista.
Para alguma reportagem da qual não mais me recordo, fui incumbida por meu editor de entrevistar pelo telefone o grande Tim Maia.
Tomada de emoção, disquei o número do escritório do ídolo, no Rio de Janeiro. Para meu espanto, Tim me atendeu prontamente. E foi logo prometendo me enviar pelo correio todos os seus discos -que, por sinal, estou esperando até hoje.
Depois de anotar meu endereço e de responder a todas as minhas perguntas, ele chutou o balde. "Escuta", mandou de supetão, "por acaso você está ligando do prédio da Folha, aquele que fica na alameda Barão de Limeira, 425?"
Sem entender lhufas, respondi que sim, que estava. Tim, então, me deu uma sugestão das mais inusitadas: em vez de ficar perdendo tempo com entrevistas inúteis, por que eu não ia visitar o ponto de crack que fica no número quatro, dois qualquer coisa (não lembro mais o digito que ele me forneceu), na mesma rua?
Terminada a conversa, corri para checar a veracidade da informação nos botecos desta gloriosa alameda.
Não é que o velho Tim acertara na mosca? Nas imediações de meu local de trabalho, bem debaixo do meu inocente nariz, havia um ponto de drogas que vendia essa maldita e, até então, desconhecida substância.
Descobri mais tarde que, quando vem a São Paulo, Tim Maia costuma se hospedar em um hotel localizado à esquina da Barão de Limeira com a avenida Rio Branco.
Descobri também que Tim Maia não é usuário de crack. Caso fosse, a essa altura estaria morto, encarcerado ou no manicômio.

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