São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995
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Pressão política pode derrubar Telê

ARNALDO RIBEIRO; PAULO PEIXOTO
DA REPORTAGEM LOCAL*

O técnico Telê Santana admitiu ontem que está decidido a sair do São Paulo no final do ano, quando termina o seu contrato.
Telê, que completou cinco anos de clube recentemente, sente-se insatisfeito com as pressões políticas que vem enfrentando no São Paulo e deve aceitar o convite para comandar todo o Departamento de Futebol do América-MG, em 96.
O América está investindo cerca de US$ 600 mil na construção, em Belo Horizonte, de uma academia internacional de futebol, que terá três campos de treino, alojamentos, refeitório, departamento médico e salas de aula.
O projeto do clube mineiro tem o apoio de três empresas do Japão, que enviariam os jovens japoneses para uma espécie de colônia de férias no América.
O clube receberia entre US$ 150 mil e US$ 200 mil por jogo.
O América quer operar também com os mercados norte-americano e coreano.
"É uma proposta tentadora, tanto em termos financeiros como profissionais. É o que eu sempre quis fazer, quando deixasse de ser técnico. Eu não seria o treinador do América, apenas coordenaria o projeto e orientaria os garotos", disse Telê.
"Sonhar com Telê é possível, mas é difícil", disse Magnus de Carvalho, vice-presidente de futebol do time mineiro.
Carvalho, no entanto, disse que o América tem a seu favor um sonho antigo de "seu" Zico, pai de Telê e ex-diretor do América, já morto. "Ele queria que o seu filho treinasse um dia o seu clube do coração", afirmou.
O América estava suspenso, desde 93, pela Confederação Brasileira de Futebol.
A punição foi suspensa recentemente e clube deve disputar a Série A-2 do Brasileiro de 96.
Segundo Telê, o convite do América não impediria que ele continuasse dirigindo o São Paulo, acumulando os dois empregos.
"Mas, no momento, acho que seria melhor sair."
A volta de Márcio Aranha, ex-diretor de futebol e desafeto de Telê, pode precipitar a saída do treinador.
Aranha foi convidado para ser o administrador do fundo de investimento do São Paulo e da TAM, patrocinadora do clube, para a contratação de jogadores (leia texto abaixo).
Ele disse que terá poder de veto sobre as contratações com o dinheiro do fundo.
Telê também não estaria totalmente convencido do apoio do presidente do clube, Fernando Casal de Rey, ao seu trabalho.
Márcio Aranha teria dito que Casal de Rey seria favorável à saída do treinador.
"Ele só está mantendo o Telê no cargo por pressões de ex-presidentes (Antonio Nunes Leme Galvão e José Douglas Dallora)", afirmou Aranha.
"Não preciso de padrinho nenhum. Se isso for verdade, está tudo acabado. Saio do São Paulo imediatamente", disse Telê.
O treinador se reuniu ontem à tarde com Casal de Rey e disse que o presidente desmentiu as declarações de Aranha.
Outro lado
Em comunicado oficial à imprensa, ontem, o presidente do São Paulo, Fernando Casal de Rey, afirmou seu apoio ao técnico Telê Santana.
"Não respondo por terceiros e ninguém está autorizado a falar em meu nome. Nosso relacionamento com o treinador Telê data de longos anos e tem se pautado por um grande respeito mútuo, em que a palavra traição não existe".
Segundo Casal de Rey, "qualquer decisão sobre a saída de Telê será tomada de comum acordo".
O São Paulo elegerá seu novo presidente em abril de 96. Fernando Casal de Rey é candidato à reeleição.
O clube adiou, para o próximo dia 9, a divulgação do projeto de reforma e modernização do estádio do Morumbi.

*Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte

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