São Paulo, quarta-feira, 1 de novembro de 1995 |
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Filmes cruzam obra de Iberê e De Chirico
JOSÉ GERALDO COUTO
O diretor de fotografia e quase co-autor dos dois filmes é o veterano Mario Carneiro, 65, um dos mais refinados fotógrafos do cinema brasileiro, além de pintor, arquiteto e gravador. Há uma ponte curiosa entre os dois filmes: Carneiro foi aluno de pintura de Iberê, que por sua vez foi aluno de De Chirico. Os dois projetos nasceram interligados: o documentário sobre Iberê foi sugerido pelo próprio pintor em 94, quando Pizzini foi visitá-lo para pedir-lhe um depoimento sobre De Chirico, de olho no curta "O Enigma de um Dia". Iberê, então considerado o maior pintor brasileiro, gostou tanto do curta de Pizzini "Caramujo Flor" (inspirado no poeta Manoel de Barros) que escreveu uma carta autorizando o cineasta a fazer um filme sobre sua vida. Com a morte de Iberê, Pizzini não chegou a filmar o pintor. As imagens deste que aparecem no filme foram extraídas de outras fontes, entre elas o documentário "Iberê: Pintura-Pintura", realizado por Mario Carneiro em 1978. O que Pizzini fez foi filmar os locais onde o artista viveu e colher depoimentos de pessoas que conviveram com ele. Há ainda falas em "off" do próprio Iberê. Alguns textos do pintor são ditos no filme por Fernanda Montenegro. O filme custou R$ 100 mil, cobertos em sua maior parte pela empresa Enterpa, por meio da Lei Mendonça (municipal) de incentivos fiscais. Feito para ser exibido na TV, terá uma pré-estréia em 29 de novembro, no Masp. Mas foi no curta "O Enigma de um Dia" que Pizzini se empenhou mais a fundo como autor. O filme é protagonizado por Leonardo Villar, 71, em seu primeiro papel no cinema em 25 anos. Ele interpreta o vigia do museu em que está o quadro "O Enigma de um Dia", de De Chirico. Ao prestar atenção pela primeira vez no quadro, o vigia acaba por "entrar" na obra e viver uma espécie de pesadelo metafísico. Embora ainda falte a sonorização de algumas partes do curta, todos os que o viram -como o professor de cinema Jean-Claude Bernardet e o cineasta Carlos Reichenbach- ficaram animados, prevendo prêmios internacionais. Mario Carneiro viu anteontem pela primeira vez o filme, junto com a Folha e com Pizzini. Terminada a sessão, o fotógrafo não se conteve: "Joel fez uma fábula sobre a impregnação de um homem pelo olhar. O filme é muito prazeroso, porque a angústia está matizada pela beleza. Aliás, parece que o protagonista cai dentro da beleza e passa a ver esteticamente o mundo. Só que conseguir ver apenas o belo é também uma coisa agoniante". "O Enigma de um Dia" será exibido em dezembro no Espaço Banco Nacional de Cinema. Na mesma época, deverá ser exposto no cinema o quadro de De Chirico, que foi trazido ao Brasil nos anos 20 por Tarsila do Amaral. O filme custou R$ 50 mil, vindos dos governos federal e paulista, das prefeituras de Dourados (MS) e Campo Grande (MS), do produtor Ueze Zahran, do Sebrae (MT) e da Health. O programa "Primeiro Plano", do canal por assinatura GNT, tratará amanhã, às 23h30, dos dois filmes de Joel Pizzini e do curta "Caligrama", de Eliane Caffé. Texto Anterior: Profeta estimula criação do futuro Próximo Texto: Curta recria universo metafísico Índice |
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