São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Medo de conflito leva governos ao Pontal

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA, NO PONTAL DO PARANAPANEMA

Em reunião entre Incra, governo de SP e MST, Covas vai dizer que busca áreas para ampliar assentamentos este ano
O governador de São Paulo, Mário Covas, e a direção do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) temem conflitos na região e buscam novas áreas para acelerar os assentamentos no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo).
O objetivo é manter a tranquilidade na área, abalada depois da prisão de dois líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Durante encontro marcado para amanhã no Pontal, Covas vai comunicar ao MST que o Estado está tentando identificar novas áreas públicas na região para atender o maior número possível de famílias sem terra ainda em 95.
Representante do governo federal, o presidente do Incra, Francisco Graziano Neto, também participa do encontro, que deve ser realizado sob clima de tensão.
Enquanto o MST quer o assentamento de 2.100 famílias, Covas diz que a meta do governo é atender 1.000 famílias em 95. As outras 1.100 seriam atendidas em 96.
Declaração feita pelo governador, anteontem em São Paulo, apontando a meta, desagradou os líderes do MST.
Ontem pela manhã, o coordenador nacional do movimento, Gilmar Mauro, 27, ameaçou cancelar a reunião.
Mauro se irritou ao saber que o governador negou à Folha, anteontem, que tivesse concordado em assentar 2.100 famílias em 95.
À tarde, depois de uma reunião do movimento, Mauro voltou atrás e disse que o encontro seria mantido. Segundo ele, a reunião vai ser importante "inclusive para que o governador confirme a sua proposta de acordo".
Mauro reafirmou que um acordo "estava sendo feito" e que seriam assentadas 2.100 famílias até o final de 95.
"O Belisário (dos Santos Júnior, secretário de Justiça) concordou com a proposta, o Covas estava com ele. O presidente do Incra disse que vinha ao Pontal para resolver o problema. Eles precisam falar a mesma linguagem."
Ontem, Belisário disse que não pretende discutir com Mauro por meio da imprensa. "Temos nos entendido e não há razão para interromper as conversações. Os assentamentos definidos pelo governo são irreversíveis."
Ele negou que o governo Covas tenha proposto a troca dos assentamentos pela suspensão de ocupações na região.
Na sua opinião, porém, as negociações com o MST são "um sinal" de que a tranquilidade deve continuar no Pontal do Paranapanema, apesar das prisões de alguns líderes do movimento.
Para Gilmar Mauro, acordo fechado em setembro previa assentamentos já em outubro, "mas novembro chegou sem nenhuma solução, ficou tudo na base de boas intenções". Ele disse que o MST vai reagir à negativa de Covas.
Segundo ele, se Covas assentar 1.000 famílias e o Incra outras 1.100 "fica tudo bem, pois queremos é a terra, não importa se pelo governo paulista ou federal".
Rainha
A reunião dos líderes do MST decidiu também que o líder José Rainha Júnior, foragido da polícia, não irá conceder entrevistas.
O MST teme que as declarações possam dificultar um habeas corpus -instrumento que suspenderia o decreto da sua prisão.
Jobim
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, discute hoje com o presidente Fernando Henrique Cardoso medidas para acelerar os processos de desapropriação de terras.
Jobim disse ontem, em Porto Alegre (RS), que o Ministério da Justiça estuda uma "série de projetos de reformas" para acelerar as desapropriações. Segundo o ministro, existem "problemas judiciais" a serem resolvidos.
Jobim afirmou que procurará o Supremo Tribunal Federal para tratar de "gargalos".

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