São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Luta adiada de Tyson não vai fazer falta

SERVILIO DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O confronto entre Mike Tyson e Buster Mathis Jr., previsto para amanhã e adiado na última terça-feira, não fará nenhuma falta. Nem para o mundo do boxe nem para o telespectador nem para o próprio Tyson, enquanto boxeador. Quem mais perdeu com o cancelamento da luta foram justamente aqueles que planejavam lucrar alto com o combate.
A luta não acrescentaria nada ao boxe de Tyson porque ele poderia derrotar Buster Mathis Jr. até com um dedo quebrado (ousaria dizer que até com uma mão só). O adversário era mais um desconhecido, um lutador considerado de segunda linha nos Estados Unidos, com excesso de peso e vontade, mas falta de habilidade.
Nunca chegou aos pés da categoria de seu pai, o verdadeiro Buster Mathis, que, nas décadas de 60 e 70, ameaçou lutadores de ponta. O filho é um oponente que não aguentaria um round diante de Tyson. E Mike não precisa disso. Acredito que, com seu potencial e na sua atual condição, ele já pode enfrentar lutadores que oferecem real desafio, como é o caso de Evander Holyfield e Riddick Bowe.
Por sinal, essa dupla fará uma luta de verdade e é por isso que também afirmo que o telespectador não estará perdendo nada neste sábado. Se o embate de Tyson continuasse marcado para o mesmo dia e o mesmo horário, pior para ele.
Eu já estava preparado para ver o confronto entre Holyfield e Bowe, pelo simples fato de que haverá dois lutadores sobre o ringue, não apenas um. Será realmente um combate, que pode se prolongar por muitos e muitos assaltos e cujo resultado final desperta a curiosidade.
Reação semelhante à minha esboçou o público interessado no boxe, o que assustou os organizadores da luta de Tyson. Não tenho dúvidas de que o tal dedo quebrado foi uma boa forma que os organizadores encontraram para se safar do fracasso que já se anunciava. Uma fratura desse tipo pode, de fato, acontecer, e o histórico de Tyson o desobriga de subir ao ringue sem suas melhores condições -já não é um novato ou desafiante que tem que partir para o sacrifício para não perder uma boa oportunidade. Ocorre que o interesse que a outra luta desperta é indiscutivelmente maior. O empresário Don King certamente percebeu isso.
Se isso serve de consolo, acredito que Tyson, como lutador, não ganharia nada com a luta, mas também não perde nada com seu adiamento. É verdade que ele se beneficia financeiramente de todo o jogo de interesses comerciais que está a sua volta e que, nesse caso específico, consentiu que não houvesse luta.
Mas sabemos que o excelente boxeador está acima disso tudo, a ponto de subir no ringue disposto a massacrar o adversário sem se preocupar se os patrocinadores vão se queixar da rapidez da luta. Para mim, a reputação do lutador Mike Tyson sai desse incidente sem nenhum arranhão. Os amantes e interessados no boxe saberão separar o joio do trigo.

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