São Paulo, sexta-feira, 3 de novembro de 1995
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Argentina decide extraditar nazista

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O ex-capitão nazista Erich Priebke, 82, será extraditado da Argentina para a Itália, onde enfrentará julgamento por crime da Segunda Guerra Mundial.
A decisão foi tomada ontem, às 18h30 (19h30 no Brasil), pela Corte Suprema de Justiça da Argentina. Dos nove ministros, seis votaram a favor da extradição, e três, contra.
Priebke é acusado pelo governo italiano de haver participado do Massacre das Fossas Ardeatinas, em 1944, quando 335 civis foram assassinados em represália pela morte de 35 soldados alemães.
Durante 48 anos, Priebke viveu em São Carlos de Bariloche (a 1.600 km de Buenos Aires).
Chegou à Argentina com a ajuda da Igreja Católica e se estabeleceu como comerciante.
Em maio do ano passado, foi identificado por repórteres de uma rede de televisão norte-americana, a partir da denúncia de outro nazista, Reinhard Kops.
Em entrevista, assumiu a participação no massacre. O governo italiano imediatamente pediu sua extradição à Argentina.
O pedido tramitou durante 17 meses na Justiça. Foi aprovado em primeira instância. A defesa recorreu e ganhou na Câmara Federal de General Roca.
O caso acabou na Corte Suprema -o mais alto patamar da Justiça argentina. Nos últimos meses, o presidente argentino, Carlos Menem, deu várias declarações a favor da extradição.
As pressões do governo para levar Priebke a júri resultam de uma tentativa de mudança da imagem do país, que se tornou internacionalmente conhecido como um "paraíso de nazistas".
Cerca de 150 criminosos imigraram para o país no pós-guerra.
Em entrevista a uma rádio local, ontem, Priebke afirmou que iria resistir à extradição e chamar seu advogado, Pedro Bianchi.
"Esta notícia me derruba", declarou o ex-capitão nazista. Bianchi, entretanto, desconsiderou as afirmações de seu cliente.
"Estamos dispostos a ir para a Itália", declarou à Folha. "Já tenho as malas prontas."
Segundo Bianchi, a extradição de Priebke deve demorar 20 dias. A Interpol italiana deve se encarregar do translado do ex-nazista.
Bianchi afirmou ainda que vai entrar em contato com um advogado italiano, que cuidará da defesa de Priebke. O primeiro passo será pedir à Justiça para manter o ex-nazista em prisão domiciliar.
O argumento de defesa deverá se basear na tese de que Priebke só cumpriu ordem superior.
Os advogados também se valerão do fato de que o ex-comandante nazista que determinou o massacre, o coronel Herbert Kappler, foi condenado à prisão perpétua em 1948. Seus subordinados, entretanto, foram absolvidos.

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