São Paulo, sábado, 4 de novembro de 1995
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"Libertação" enfoca atrocidades da 2ª Guerra

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Filme: Libertação 1945
Direção: Arnold Schwartzman
Produção: EUA, 1994
Estréia: hoje, no CineSesc.

Todo documentário é um libelo político. "Libertação 1945", além de não fugir à regra óbvia, conseguiu ser politicamente correto em tratar o mais polêmico tema do século, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Negros discriminados no exército dos EUA e mulheres trabalhando em fábricas, têm os seus quinhões de sofrimento ou abnegação devidamente retratados, apesar de o massacre dos judeus pelos nazistas receber o tratamento preferencial. O documentário foi produzido pela Moriah Filmes, divisão do centro Simon Wiesenthal. O centro é conhecido pela sua atividade de caça a criminosos de guerra nazistas, mas também está empenhado em manter viva a memória do chamado "holocausto" judaico.
Alguns dos problemas no filme foram omissões, que são naturalmente esperadas em uma obra de meros 98 minutos.
Uma imagem interessante resume o documentário. É a de um cemitério militar norte-americano, com lápides que são cruzes ou estrelas de Davi brancas. A câmara, como o documentário, centra o foco em um grupo dessas lápides-estrela, fazendo-as parecer bem mais numerosas do que de fato são. Quem já esteve em um cemitério destes sabe que as cruzes são bem mais comuns.
Como parece ser praxe em filmes ocidentais, o papel soviético na derrota alemã é colocado em segundo plano, quando qualquer historiador militar sabe que o exército alemão teve sua coluna vertebral quebrada na frente russa, mesmo antes do famoso Dia-D, a invasão anglo-americana da Normandia, em 1944.
O líder alemão Adolf Hitler colocou 138 divisões em linha para invadir a URSS em 1941. Enquanto isso, os britânicos suavam para conter um punhado de divisões alemãs e italianas na África do Norte. De 1941 a 1945, de dois-terços a três-quartos do exército de Hitler lutavam na URSS.
No filme, a máquina de guerra russa parece estar mais vezes libertando campos de concentração do que lutando com os alemães.
O documentário procura passar uma idéia do ambiente de guerra, por isso também constam temas mais leves, como o engajamento dos artistas americanos no divertimento das tropas, ou uma anedota sobre o mais vaidoso dos generais aliados, Bernard Montgomery.
A opção preferencial pelos judeus é perceptível no modo como o massacre é relatado. São mostrados casos concretos, como mães que perderam filhos, que criam uma empatia fortíssima com o espectador. É fácil chorar vendo este documentário. Os outros dramas, por não terem esse contraponto de depoimento pessoal, perdem impacto. É o caso dos 20 milhões de eslavos mortos, muitos apenas por serem eslavos, que se somam a seis milhões de judeus, mortos apenas por serem judeus.

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