São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Funcionários de escola sofrem contaminação

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Funcionários da Escola Técnica Estadual Lauro Gomes, de São Bernardo do Campo, no ABCD (Grande São Paulo), afirmam que foram contaminados por radiação nuclear na própria escola. Segundo eles, a fonte de radiação é um aparelho de raios X, sem uso, guardado no almoxarifado da instituição.
A denúncia está sendo encaminhada ao Ministério Público e foi assinada pelos funcionários Ilton Gimenez Moretti, Antônia Moreira Divino e Antônio Jorge Luca.
Apesar de o suposto vazamento de radiação ter ocorrido em 1988, a denúncia só foi feita após a médica Wânia Maria Barroso, que trata os funcionários, ter assinado o diagnóstico. Segundo ela, os problemas de Antônia Divino foram resultado de exposição a material radiativo.
Inventário
Antônia conta que tudo começou quando dois estagiários da Fatec (Faculdade de Tecnologia) foram fazer um inventário dos equipamentos radiativos na escola Lauro Gomes, em 1988.
Segundo Antônia, os estagiários pegaram o aparelho de raios X e começaram a desmontá-lo. Não existe registro do aparelho, dinamarquês, da marca Andrex, modelo 1511, na escola. O equipamento não é para uso hospitalar, mas para indústrias. Ele deveria ser utilizado em radiografias de estruturas metálicas. Nunca foi ligado.
Alguns meses depois da visita dos estagiários, Antônia passou a sentir náuseas, vertigens, palpitações, desmaiar e perder cabelo.
Suas unhas caíram, feridas e escamas (psoríase) cobriram seu corpo, pernas e braços ficaram paralisados momentaneamente e ela teve um tumor no seio.
Até o diagnóstico da médica Barroso, "os mais de cinco" especialistas procurados por Antônia afirmavam que ela havia sido submetida a "um coquetel químico".
Os contaminados, segundo o professor, foram os que trabalhavam próximos ao almoxarifado. A cozinha da escola está localizada ao lado da sala que guardava produtos químicos e o raio X. Alzira Barizon, 57, ajudante de cozinha, está com um braço paralisado e afirma que "só pode ser por causa do aparelho".
Moretti entrou em contato com o fabricante do equipamento, a Andrex Radiation Products, e pediu informações sobre o modelo desmontado na sala de Antônia.
A empresa respondeu, por fax, que não tinha condições de dar informações técnicas de um aparelho fabricado há mais de 25 anos.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB, Antônio Fernando Pinheiro Pedro, enviou ofícios à Fatec e à Comissão Nacional de Energia Nuclear perguntando se realmente houve vazamento de radiação na escola.

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