São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Mulheres tratam corpo e mente com homens

LÚCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Independentes e mestres em bordões feministas, muitas mulheres acham que já conquistaram seu lugar no mercado de trabalho, mas fazem distinção entre sexo masculino e feminino. Na hora de escolher o ginecologista ou o terapeuta, elas preferem os homens.
"Acho muito mais fácil mostrar o meu corpo para um homem do que para uma mulher. Também é mais fácil ser tocada por um homem. Acho que é porque eles são mais profissionais e mais objetivos", afirma a consultora de marketing Ruthi Dabah, 40.
Ruthi nunca procura ginecologistas ou terapeutas mulheres porque se diz "traumatizada" com elas. Suas duas primeiras experiências não foram boas. Da primeira ginecologista que teve, Ruthi diz que era "insegura e seca" e com a terapeuta mulher foi ainda pior: a psicanalista dormiu durante uma sessão de análise. "Nunca mais voltei", afirma.
Sua explicação para o fato não é ressentida: "Acho que ela ficou entediada porque os meus problemas eram parecidos com os dela. Quando o terapeuta é do sexo oposto existe mais interesse no caso. Além disso, eles dão um parecer diferente, um olhar diferente."
Tentar ter uma visão diferente dos seus problemas e entender o sexo masculino é a principal motivação das mulheres que optam pelos psicanalistas homens.
A comerciante Clarisse Pilnik, 40, procurou um terapeuta homem quando começou a fazer análise por esse motivo. "Meu casamento estava em crise e eu queria ter uma visão masculina. Não tinha tido outro namorado antes do meu primeiro marido. Queria saber como os outros homens pensam", diz.
O tratamento funcionou: ela se separou e há três anos recebeu alta da análise. "Minha conversa com meu analista sempre foi ótima. Me sinto muito melhor quando converso com homens", diz.
A analista de sistemas Kátia Vieira Alves, 34, concorda e critica sua ex-terapeuta. "Ela era tendenciosa. Tirava conclusões por mim e queria me adequar aos problemas que, na verdade, eram problemas dela."
Clarisse também tem péssimas recordações da sua primeira ginecologista. "Ela me passava uma impressão de uma pessoa fria e insegura", diz. Ela conta que começou a ficar decepcionada com a ginecologista durante sua primeira gravidez (seus filhos hoje têm 15 e 17 anos).
Sua ginecologista trabalhava no mesmo andar do marido dela, também ginecologista. Clarisse estava com um problema de pressão alta e sua ginecologista queria que ela fizesse parto normal. Um dia teve uma crise e foi procurá-la no consultório. "Por acaso, o marido da médica ouviu e a repreendeu. Disse que ela deveria intervir na minha gravidez. Fiquei superinsegura e com medo", conta.
Ruthi Dabah tem uma teoria sobre por que ela não gosta de médicas mulheres.
"Em casos de medicina, acho que os homens são melhores. É uma questão de cultura. Eles não têm que provar o tempo todo que são bons. Isso acaba deixando as mulheres mais inseguras."
Segundo ela, o problema é que as mulheres competem o tempo todo. "Daí o fato de que é muito difícil ter amigas mulheres. Demora mais. Em 20 anos, tenho só 4 ou 5 amigas mulheres e incontáveis amigos homens."
A empresária Célia Franco Guagliano, 35, tem a mesma opinião. "Acho que elas são tão competentes quanto os homens. Mas muitas vezes as mulheres esquecem o lado profissional sem querer. Ao lado de outras mulheres, elas sempre acham que têm que ser mais bonitas, melhores."
Ela conta que uma vez uma amiga se separou do marido influenciada pela terapeuta. "A médica estava infeliz e inconscientemente queria ver a paciente infeliz também. Por isso, fez com que ela rompesse o casamento."

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