São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Crise forma teen prendado

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Lavar a louça, tirar a mesa do jantar, arrumar a cama. Tem muito teen que morre de pavor só de pensar em ter de realizar essas tarefas. Mas, hoje em dia, poucos escapam dessas "malices".
Isso porque, ao contrário do que acontecia com a geração de seus pais, as empregadas domésticas viraram artigo raro na casa das famílias de classe média. E os pais também não estão mais dispostos a manter a casa sozinhos.
Segundo o psicólogo Adalberto Bolleta, os adolescentes serem obrigados a ajudar seus pais nas tarefas domésticas pode ser considerado um dos "benefícios da crise". "É importante que os teens aprendam a se cuidar", diz.
Marcos de Faria Lima, 21, é um dos "beneficiados". O garoto foi habituado desde cedo a ajudar sua mãe. É comum no dia-a-dia da família o garoto lavar a louça, varrer a casa e até mesmo cozinhar.
Marcos não reclama. "Não tem como não ajudar. Essa é uma tendência natural nos dias de hoje. Fui educado assim. Acho que você tem de retribuiro que os seus pais fazem por você."
Carina Alvez da Cruz, 17, pensa da mesma maneira. Na sua casa, ela é a primeira a se prontificar a ajudar sua mãe. "Eu moro aqui, ajudar é minha obrigação, cada um tem de fazer a sua parte", diz.
Suas irmãs Cibele, 19, e Sabrina, 16, não são tão empolgadas com os afazeres do lar. Tanto que sua mãe, Maria Antônia, criou até uma máxima para definir as filhas. "A Carina não reclama e faz, a Cibele reclama mas faz, já a Sabrina reclama e não faz", diz.
Sabrina se define como "meio preguiçosa" e assume que não tem paciência para ajudar em casa. Sua mãe não esconde uma ponta de preocupação. "Se ela não aprender, sua casa vai ser um caos."
Maria Antônia considera importante que as filhas se acostumem com as tarefas domésticas. "Se eu criar as minhas filhas com mordomia, estarei fazendo um grande mal a elas. É preciso ser independente", diz.
Denise Vulcano, mãe de Lígia, 16, e Renato, 15, também se preocupa com a independência dos filhos, mas assume que dá a eles uma certa mordomia. "Quando eu era jovem não fazia nada, com a necessidade fui aprendendo. Acho que com eles vai ser igual", diz.
Denise pede para os filhos ajudarem, mas eles demoram tanto que acaba fazendo tudo sozinha. Lígia diz que até ajuda quando precisa. "Acho chato, mas acabo fazendo", diz.

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