São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Folha exibe outro lado da Guerra do Vietnã

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A HANÓI

A Folha vai exibir amanhã, ás 19h30, dois documentários sobre a Guerra do Vietnã inéditos no Brasil e com um detalhe especial: foram feitos por cinegrafistas norte-vietnamitas. Mostram a visão que os comunistas tinham do seu conflito contra os Estados Unidos. (leia text nesta página)
A Guerra do Vietnã envolveu até 1975, de um lado, a guerrilha e o Vietnã do Norte, com o apoio da China e da então URSS, e, de outro, o Vietnã do Sul e os Estados Unidos. Morreram durante o conflito 3,5 milhões de militares e civis. Os EUA, que no auge da escalada (1969) tinham na região 549 mil combatentes, perderam 58 mil de seus homens.
A Guerra terminou com a reunificação do Vietnã e com a instauração do regime comunista. O comunismo poderia ter chegado ao poder por via eleitoral, em 1956. As eleições, que não ocorreram, estavam previstas nos Acordos de Paz de Genebra, assinados depois que vietnamitas derrotaram a França, potência colonial na Indochina.
O Estúdio de Documentário do Vietnã, responsável pelas filmagens durante a guerra que ocorreu entre 1955 e 1975, perdeu oito cinegrafistas mortos nos campos de batalha. Três deles morreram quando se fazia o documentário "Vinh Linh - Fortalezas de Aço", que será mostrado pela Folha. A outra produção a ser exibida terça-feira se chama "As Mulheres de Ngu Thuy" e focaliza a participação feminina no esforço de guerra.
Vinh Linh é o nome de um distrito norte-vietnamita localizado junto à fronteira que dividia o Vietnã entre o norte comunista e o sul pró-Estados Unidos. Foi uma das regiões mais atingidas pelos bombardeios norte-americanos.
Em 1967, uma equipe de filmagem do Estúdio de Documentário partiu de Hanói (capital) para Vinh Linh, a fim de registrar a vida dos camponeses, guerrilheiros e soldados mobilizados numa região colada aos campos de batalha. Um dos cinegrafistas era Ma Van Cuong, que atualmente dirige o Estúdio.
"Ficamos dezoito meses naquela área, recolhendo imagens que são raras no Ocidente", conta Ma Van Cuong. "Vocês estão acostumados a ver filmes sobre a guerra feitos por norte-americanos, nossos documentários mostram o outro lado da história".
Em Vinh Linh, os cinegrafistas recolheram, conforme descreve Ma Van Cuong, "5.000 metros de filmes" que seriam editados em Hanói e, no caminho de volta, a equipe foi atingida pelo bombardeio de um B-52, avião de guerra norte-americano. Três vietnamitas morreram e parte dos originais foi destruída.
A Guerra Fria terminou e o Estúdio de Documentários não usa mais suas produções apenas como propaganda. "Elas são para nós importantes documentos de nossa história e da história mundial", afirma o diretor Ma Van Cuong.
O Estúdio foi criado em 1949 por ordem de Ho Chi Minh, o patriarca da independência e da revolução comunista do Vietnã. O arquivo do Estúdio guarda preciosidades dos tempos da luta contra a dominação colonial francesa, da guerra contra os norte-americanos e do esforço para reconstrução do país depois de 1975.
São mais de 1.500 filmes com imagens de Ho Chi Minh, de outros dirigentes norte-vietnamitas como o general Vo Nguyon Giap, cenas de construção das estradas que ligavam o norte com as forças guerrilheiras infiltradas no sul, flagrantes da prisão da tripulação norte-americana de um avião B-52, além de momentos das batalhas e do treinamento ideológico.
Antes de 1989, o Estúdio chegou a produzir 50 documentários em um ano, mas a cifra atualmente não ultrapassa a casa dos dez. Ele enfrenta uma crise financeira causada pelos cortes na ajuda financeira que vinha do governo.
O auxílio de 22 mil dólares anuais não cobre nem as despesas com preservação dos filmes, explica a direção do Estúdio. Com as más condições de armazenamento, alguns documentários se estragam.
O Estúdio procura fontes alternativas de recursos. Com o capitalismo que também chega ao Vietnã, ele sai em busca de clientes para rodar filmes publicitários ou documentários. "Ainda damos os primeiros passos, mas creio que teremos sucesso", afirma o diretor Ma Van Cuong.

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