São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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'Guarda-Costas' se escora no anti-racismo

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Passado o momento do lançamento, passada a maciça campanha publicitária, começa a ser possível ver o que é, afinal, "O Guarda-Costas" (Globo, 21h45).
Primeiro, existe uma história meio besta, em que Kevin Costner é contratado para ser guarda-costas de uma cantora famosa (Whitney Houston). A regra básica da vida de um guarda-costas é a de não se envolver minimamente com a pessoa a quem protege.
Mas, vamos falar a verdade, a protegida aqui bem que dá em cima dele. No mais, ela é graciosa e coisa e tal.
Segundo ponto: o filme, no aspecto apenas cinematográfico, não tem nada de especial. É o chamado filme de produção, onde o empenho pessoal é limitado.
Mas o que muda tudo (ou pode mudar) é o aspecto sociológico do filme. A cantora é negra; o guarda-costas, branco.
Os casos de amor inter-racial no cinema americano são raros, se é que existem. "O Guarda-Costas" tem o mérito de introduzir o amor entre os dois como a coisa mais natural do mundo.
Pode-se sempre argumentar que, nos EUA (e no Brasil também, embora de maneira diversa), negro que faz sucesso não é negro: uma cantora famosa escapa a essa condição. Ainda assim, o tratamento dado ao caso é a considerar.
Às 15h, a Globo exibe "Ghost - Do Outro Lado da Vida". Existe um bom princípio: um homem que morre e, do além, dispõe-se a proteger a mulher e amá-la é um personagem interessante.
É uma pena que isso passe para segundo plano, derrotado pela necessidade de explorar a onda de além que existiu na virada dos 80 para os 90. Estamos, aqui, em pleno "hamburguesamento" do cinema. É possível que "O Guarda-Costas" esteja no mesmo caso.
(IA)

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