São Paulo, segunda-feira, 6 de novembro de 1995
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Deleuze se suicida aos 70 anos em Paris

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

O filósofo francês Gilles Deleuze suicidou-se sábado em Paris. Deleuze, que tinha 70 anos, jogou-se da janela de seu apartamento, na capital francesa.
O filósofo sofria havia vários anos de uma grave insuficiência respiratória. Recentemente tinha passado por uma traqueostomia -operação que abre a traquéia para o exterior do corpo através de um canudo (pela traquéia o ar chega aos pulmões).
A morte do filósofo foi anunciada no domingo pela sua família, que não forneceu mais detalhes.
O trabalho de Deleuze ficou mais conhecido por meio dos cinco livros que publicou com o psicanalista e também filósofo Felix Guattari (1930-92), entre eles o "best seller" no gênero, "O Anti-Édipo" (1972).
O pensamento de Deleuze, assim como o de Guattari, está relacionado ao clima intelectual que envolveu as manifestações do "maio de 1968" francês.
Isto é, às revoltas libertárias que questionaram o modo como se pensavam o Estado e o poder, a psicanálise e a psiquiatria tradicionais e que estimularam os movimentos contraculturais dos anos 70.
No "Anti-Édipo", Deleuze e Guattari reexaminam o conceito freudiano do complexo de Édipo (as relações entre desejo e repressão na família, que levam à formação da identidade dos sujeitos).
Para eles, o psíquico e o social não podem ser separados. A vida cotidiana seria o lugar em que ocorrem lutas tidas como menores, mas que conduziriam a transformações mais importantes do que a política tradicional. O desejo e o inconsciente teriam um papel criador na história.
Deleuze dedicou-se também ao exame de filósofos como Nietzsche ("Nietzsche, Proust e os Signos", 1969), Spinoza e Leibniz, mas nunca no papel do historiador tradicional da filosofia.
Nos anos 80, dedicou-se a pensar o problema do tempo por meio da discussão da arte do cinema ("Cinema: Imagem-Movimento") e do pensamento do filósofo Henri Bergson. Para Deleuze, o cinema não se constituiria como arte enquanto uma linguagem, mas como "pensamento" do tempo real, não cronológico e exterior ao sujeitos.
Deleuze escreveu ainda "Diferença e Repetição" (1968), "Mille Plateaux (1980) e "O Que É a Filosofia" (1991).

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