São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 1995
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Refém diz que ladrões não atiraram

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Operários que foram mantidos como reféns por dez horas em uma tentativa de assalto a uma construção no Morumbi (zona oeste de SP) reafirmaram ontem, em novos depoimentos à Polícia Civil, que não houve tiro antes da invasão da PM ao local do cativeiro.
Anteontem, após o desfecho do caso, que acabou com quatro mortos (os dois ladrões e dois reféns), o capitão do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais da PM) que comandou a operação, Wagner César Teixeira Pinto, afirmou que os policiais invadiram o cativeiro após o disparo de um tiro, por parte dos ladrões, que teria matado um refém.
A tentativa de assalto, que começou às 15h30 da última terça, terminou com a morte dos ladrões Valtersa Fernandes de Moura e Francisco Fernandes Freitas e dos reféns João Correia Lima Sobrinho e Osmar Moura Nascimento, por volta da 1h30 de anteontem, após a invasão do local do cativeiro por policiais do Gate da PM.
Ainda segundo a versão da PM, os ladrões mantinham os reféns (18 no total) sobre a mira de suas armas. A versão é contestada pelo carpinteiro Ailton Leal dos Santos, 41, um dos reféns.
"Não ouvi eles apontarem arma para a cabeça de ninguém. Eles apontavam só para o lado dos policiais", afirmou. "Antes da invasão não teve tiro", disse.
Outro operário ouvido ontem pela Folha afirmou que os reféns não foram ameaçados em momento algum pelo dois homens que tentaram assaltar o local. Ele disse, inclusive, que um dos ladrões (Freitas) queria se entregar.
"Eles (os assaltantes) foram muito bacanas com a gente. Sempre falavam: 'Fiquem numa boa que não vai acontecer nada com ninguém'. Eles não maltrataram ninguém", afirmou Josué Medeiros dos Santos, 28.
Santos e outros operários da construção retornaram ontem ao 34º DP para prestar novos depoimentos. Assustados, ele evitavam falar com a imprensa.
Segundo o delegado Roberto Julião, foram feitos novos depoimentos porque há versões diferentes para o desfecho do caso. "A PM diz que entrou no local após um tiro", afirmou. O delegado disse que os PMs envolvidos no caso serão chamados novamente a depor.
Com os novos depoimentos, o delegado quer esclarecer também se houve algum tipo de orientação por parte dos PMs sobre o que os reféns deveriam falar sobre o caso.
Antes de serem encaminhados à delegacia, 14 dos 18 reféns foram levados para uma companhia da PM que fica ao lado do DP.

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