São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Sem-terra continuarão a matar bois em MG

ABNOR GONDIM
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS (MG)

Líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ameaçam matar todos os bois da fazenda Barriguda (MG), a 220 km de Brasília, se o governo federal não enviar novas cestas básicas às 700 famílias de sem-terra acampadas no local há mais de dois meses.
"Cansamos de passar fome e esperar uma solução", disse o coordenador regional do MST, David Sousa, um dos sete líderes intimados pela Justiça a pagar R$ 500 por dia de invasão.
Dez carcaças expostas ao sol no curral do capataz da fazenda mostram o resultado do abate.
Em clima de rodeio, os sem-terra laçaram na quarta-feira passada dez animais que estavam pastando perto da casa do capataz.
"Para matar o reprodutor foi preciso cinco cacetadas na cabeça dele com a costa do machado", lembra o pernambucano Marco Antônio de Almeida, 26.
Nas cozinhas dos barracos armados sob as lonas, pedaços de carne seca mostram o resultado da partilha.
Ninguém quer saber quem vai pagar a conta dos bois mortos. Só não admitem passar fome, principal motivo apontado para a doença verificada em crianças levadas para exames em Buritis, a 24 km.
As ruas do acampamento são bem divididas. Eles abandonaram o acampamento pioneiro prevendo que a área seria inundada com a enchente de um rio próximo.
Dizem que trabalham dois dias sem folga para montar lona sobre gravetos fincados no chão.
Os sem-terra já se consideram donos da fazenda. Militante há 11 anos do MST, o paranaense Lorival Lesse, 22, foi enviado pela direção da entidade "para dar uma força aos companheiros".
Experiente na organização de acampamentos, Lesse chefia um dos grupos que se revezam há três dias no enchimento dos fornos das duas carvoarias tomadas pelos sem-terra.
"Não estamos aqui para ficar de braços cruzados", disse.

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