São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Cinemateca abre amanhã mostra quase completa da obra de Pasolini

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Ciclo: Retrospectiva Pasolini
Onde: a partir de amanhã na Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 881-6542, Pinheiros, zona oeste)
Quando: amanhã, 15h, Accattone-Desajuste Social; 17h, Rogopag-Relações Humanas; 19h, Gaviões e Passarinhos; 21h, O Evangelho Segundo São Mateus

A Sala Cinemateca promove, de amanhã até 21 de novembro, uma retrospectiva com todos os longas de Pier Paolo Pasolini (1922-1975).
Pasolini foi poeta, romancista, ensaísta. Foi, também, uma das personalidades mais fortes do cinema italiano, o que já se manifestava em 1961, em seu filme de estréia, "Desajuste Social" (Accattone). A literatura é, talvez, o fator que mais favoreceu o cinema de Pasolini. Na época, os grandes mestres italianos vindos do neo-realismo (Visconti, Fellini, Antonioni etc.) chegavam ao auge de suas carreiras, mas o conjunto desse cinema dava sinais de sucumbir ao academicismo.
Pasolini parecia ignorar os cânones do "bem filmar", optando por uma liberdade às vezes desequilibrada, mas sempre cheia de idéias. Promovia a associação entre crença católica e ideologia marxista, que marca seu filme mais conhecido da primeira fase, "O Evangelho Segundo São Mateus" (64). Em seguida, Pasolini roda "Gaviões e Passarinhos" (65), com Totó, e aborda a tragédia com "Édipo Rei" (67) e "Medéia" (71).
Nesses filmes, transita da parábola à Antiguidade, descrevendo, invariavelmente, um universo em tensão -entre classes, culturas, ou mesmo nas relações pessoais.
Nos anos 70, realiza sua "Trilogia da Vida : "Decameron (72), "Os Contos de Canterbury (73), "As Mil e Uma Noites" (74). São filmes em episódios, com fontes literárias clássicas. Neles, a visão atritiva das coisas cede à sensualidade e ao entendimento fundado sobre a liberdade existencial (e sexual).
A última reviravolta de seu cinema verifica-se em "Saló ou Os 120 Dias de Sodoma". Ao adaptar o romance do Marques de Sade, ambientando-o no enclave fascista que sobrevive por algum tempo à tomada da Itália pelas tropas aliadas, durante a Segunda Guerra Mundial, Pasolini produz uma visão infernal. É como se o pessimismo, reprimido na trilogia, retornasse com violência em seu último filme. Pasolini morreu assassinado em 1975.
A retrospectiva programada pela Sala Cinemateca não exibirá três filmes em que Pasolini dirigiu episódios ("As Bruxas", de 66, "Capriccio à L'Italiana" e "Amore e Rabbia", ambos de 68). Traz, em troca, os documentários "Anotações para um filme sobre a Índia", de 68, e "Os Muros de Sana'a", de 71, e "Ostia", de Sergio Citti em 70, com roteiro de Pasolini.

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