São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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Autoconstrução consome 61% do cimento no país

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Os maiores consumidores de cimento no país não são mais as empresas que constroem edifícios, nem as empreiteiras de obras públicas.
São os autoconstrutores de casas populares na periferia das grandes cidades, segundo revela levantamento da Associação Brasileira de Cimento Portland, que a Folha publica com exclusividade.
Os autoconstrutores -cujo perfil predominante é de chefes de família de baixa renda- foram responsáveis por 61% dos volumes de cimento consumidos em 1994, ano em que a produção nacional atingiu 25,1 milhões de toneladas.
"A pesquisa comprova que a construção informal cresceu nesta década", diz Ronaldo Meyer, coordenador de mercado da associação dos fabricantes. Em 1989, a participação dos "formigas" -como os autoconstrutores são conhecidos no jargão do setor- era de apenas 43%.
Uma radiografia desse público-alvo, que movimenta vendas de US$ 1,2 bilhão anuais, mostra que a maioria possui nível de escolaridade primário, renda mensal entre 3 e 10 salários mínimos e poucos conhecimentos tecnológicos.
A maior parte das casas é térrea, tem entre 40m2 e 80m2, dois dormitórios, sala, cozinha e banheiro. Para erguer uma casa de 60 m2, em média, o "formiga" gasta dois anos, R$ 7.000 e 90 sacos de cimento.
"Queremos encurtar esse ciclo e dinamizar o mercado", diz Meyer, ao anunciar um plano de marketing setorial conduzido pela associação, que prevê o crescimento da oferta de pré-moldados que embutem cimento.
Ao custo de US$ 200 mil, um projeto encomendado ao Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo da USP já se concretizou na forma de 12 protótipos, como viga de porta e janela, placa para piso e escada, entre outros.
O próximo passo da entidade será estimular parte das 5.000 empresas especializadas a produzir essas peças em escala industrial, para que sejam comercializadas em mais de 100 mil lojas de material de construção.
A pesquisa indicou que 80% dos autoconstrutores costumam comprar sacos de cimento e blocos de concreto em lojas distantes apenas um quilômetro da obra.
Cientes disso, a associação e o sindicato dos fabricantes de cimento já distribuíram nesses pontos, desde 1989, 12 milhões de exemplares de cartilhas ilustradas, a exemplo da intitulada "Mãos à Obra", que explica os princípios técnicos básicos de construção e reforma de moradias.
"Como o autoconstrutor adota padrões empíricos, há muito desperdício nas obras", diz Meyer.
Outro objetivo da publicação é deter a queda do consumo per capita de cimento, que desabou em 1984, deve atingir 170 kg neste ano, mas ainda não retornou ao patamar de 225 kg registrado em 1980.
Se a estratégia de oferecer ao mercado peças pré-moldadas, um sistema que lembra as miniaturas do brinquedo Lego, for bem-sucedida, o consumo de cimento deverá aumentar de 5% a 10% nos próximos dois anos.
Outro objetivo da estratégia visa defender o setor da possível concorrência de materiais sucedâneos -como o gesso, muito empregado para revestir paredes internas de casas nos EUA e na Europa.

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