São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 1995
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Esgoto do mundo; Reeleição; Sem-terra; Raios X; Cobertura; Conselho indesejado

Esgoto do mundo
"Morando temporariamente na Alemanha, tenho visto com perplexidade a total ausência (ou seria conivência?) da nossa burocracia das relações exteriores. O Brasil não é o paraíso do planeta, mas também não é o esgoto do mundo! É assim que a imprensa internacional tem apresentado o país. Nos últimos meses tenho visto reportagens como: a) situação de penúria dos nossos índios; b) criminalidade intensa em São Paulo; c) má distribuição de renda (com imagens chocantes da nossa pobreza); d) caos gerado pelos petroleiros em greve; d) ignorância acentuada nos depoimentos do nosso povo; e) a promiscuidade da mulher (e do homem); f) devastação das matas; g) maus-tratos a crianças. Sei que o Brasil tem muitos problemas. Não somos o paraíso. Mas por que eles não mostram também os problemas deles? Itamaraty, não seria por isso que o brasileiro tem auto-estima tão baixa?"
Wladmir Vogt (Darmstadt, Alemanha)

Reeleição
"Desastre à vista: me refiro à possibilidade de reeleição do atual presidente da República. Gostaria de recordar o vazio que foram os últimos anos do governo Figueiredo e os do sr. Sarney após o fracasso do Plano Cruzado. Como ficaríamos com o Plano Real fazendo água após uma eventual reeleição do atual presidente? Aguentar quatro anos de vazio, preenchidos apenas por pose e belas palavras? Não é muito grande o risco? E ainda termos de, traumatizados, reformar de novo a Constituição."
Antonio L.G. Muffone (Curitiba, PR)

"Espantoso... e porque não dizer vergonhoso, o espaço que a Folha tem dedicado à grandiosa questão da reeleição! Como avaliar a possibilidade de uma reeleição sem no mínimo um período de mandato suficiente para isso. Os senhores da imprensa, 'usuários' da opinião pública, poderiam, de posse do seu soberano poder, aprofundar discussões mais producentes, objetivas e coerentes com a conjuntura nacional."
Silvana M. Luzzi (São Paulo, SP)

Sem-terra
"Na mesma proporção em que o Brasil é campeão de desigualdade na distribuição de renda, é desigual na distribuição de justiça! A prisão dos líderes dos sem-terra deixou evidente que quem não tem dinheiro e influência política não tem nada! Esse fato desgastou ainda mais a imagem do país no mundo. É cada vez mais difícil entender o país e cada vez mais impossível acreditar em progressos na construção de uma sociedade digna, em que todos sejam iguais perante a lei. Enquanto os conflitos agrários receberem esse tipo de tratamento, o país mostrará a sua vocação para um modelo de 'modernidade' adequado aos tempos feudais."
Silvia de Castro Arruda (Trondheim, Noruega)

"Pessoas distantes dos fatos lançam aos jornais críticas ao juiz de Pirapozinho porque decretou a prisão de líderes dos 'sem-terra'. Dos que desconhecem o sistema jurídico nacional pode-se compreender a leviandade da crítica. Mas dos que por imposição profissional têm de conhecer o direito vigente e o modo de atuação do Judiciário não se pode relevar a censura afoita. A prisão cautelar, prevista na lei, foi requerida pelo Ministério Público. Os fatos apurados em inquérito mostravam a existência de uma série de delitos praticados por José Rainha e seus comparsas. Incensurável, pois, o juiz que se convenceu da necessidade da prisão acautelatória para deter a continuidade delitiva e manter a ordem pública. O juiz Darci Lopes Beraldo teve a coragem de cumprir seu dever, deferindo a prisão que lhe fora requerida. Teve a coragem de cumprir a lei em uma época em que tantos a descumprem por temor do alarido da imprensa ou do patrulhamento da esquerda."
Miguel José Nader (Presidente Prudente, SP)

"Nós, professores das universidades paulistas, vimos a público para estranhar o modo pelo qual se efetivaram as prisões de líderes do MST e de seus familiares. Com esses atos de arbítrio e obscurantismo regredimos à época em que a questão social era tratada como um 'problema de polícia'."
Patrizia Piozzi, seguem-se mais 35 assinaturas (Campinas, SP)

"O sr. Lula e companheiros do PT ameaçam 'denunciar' no exterior a prisão de líderes de invasão de terras. Devem crer que a Europa não prestigia uma sociedade organizada sob o império da lei. Reclamando aos estrangeiros que no Brasil um juiz cumpriu o que dispõe a legislação fará o inconformado papel de ridículo, semelhantemente àqueles que, de quando em vez, propugnam a libertação dos sequestradores de Abílio Diniz. Essas pessoas não sabem o que é ter alguém da família refém nem o que é assistir a uma propriedade sua usurpada, em nome da 'justiça social'. Os conflitos sociais não se resolvem pela destruição da sociedade. Frustrante é encontrar juristas que pretendem desmerecer a ação judicial insinuando que o prolator da decisão é fraco ou incompetente. Pelo contrário, o julgador preferiu a lei às infundadas alegações de 'direito' a cometer crimes."
Jorge João Burunzuzian (São Paulo, SP)

Raios X
"Tendo em vista a reportagem do sr. Victor Agostinho, intitulada 'Funcionários de escola sofrem contaminação', publicada pela Folha em 5/11, a diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) considera importante que os seguintes esclarecimentos sejam prestados: 1) aparelhos emissores de raios X não possuem material radioativo incorporado; 2) aparelhos emissores de raios X só funcionam quando conectados à corrente elétrica e quando energizados, sendo inofensivos quando desligados, desmontados ou ainda quando a ampola estiver queimada; 3) raios X não provocam contaminação (presença indesejada de material radioativo) em seres vivos, materiais ou equipamentos; 4) a fiscalização de aparelhos de raios X não é competência da CNEN. No entanto, a título de colaboração, a CNEN vem promovendo treinamento em radioproteção a técnicos das vigilâncias sanitárias, entre outros, e prestando serviços de monitoração de trabalhadores e de locais de trabalho com radiação ionizante; 5) é leviano atribuir à radiação ionizante, sem prévia investigação por médicos com especialização nessa área, responsabilidade por todo e qualquer mal que aflija um indivíduo."
Ayrton José Caubit da Silva, diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Rio de Janeiro, RJ)

Resposta do jornalista Victor Agostinho - Os itens de 1 a 4 constam do "Outro Lado" da reportagem. Foram ouvidos José Mendonça de Lima, da Superintendência de Licenciamento e Controle da CNEN, e Carlos Alberto Nogueira de Oliveira, do Grupo de Emergência da CNEN. Quanto ao item 5, o atestado afirmando que os problemas de saúde de Antônia Moreira Divino foram causados por exposição à radiação foi assinado pela médica Wania Maria Barroso. A Folha tem cópia do documento.

Cobertura
"Sobre a morte de Yitzhak Rabin, Nelson de Sá afirma em sua coluna de 7/11 que 'a cobertura da CNN foi tão avassaladora que não restou às redes brasileiras senão reproduzir". Esclareço que o 'Jornal do SBT' foi o único telejornal brasileiro a colocar no ar duas reportagens especiais sobre a morte de Rabin e as repercussões da tragédia feitas pelo repórter Roberto Cabrini, enviado especial a Jerusalém."
Alberto Villas, editor-chefe do "Jornal do SBT" (São Paulo, SP)

Conselho indesejado
"Quero enviar à advogada Sueli Marques o meu repúdio e de várias mães sobre as besteiras que escreveu na Folha, uma vez que aconselha os jovens a ter relações sexuais logo no primeiro encontro. Já não chega a vida conturbada nos dias de hoje, ainda vem essa advogada dar conselhos aos jovens dessa natureza."
Cleide Aparecida Santos (São José do Rio Pardo, SP)

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