São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 1995
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Peso em queda no México, temores quanto ao futuro do ministro Cavallo na Argentina, confronto aberto entre o presidente Clinton e a maioria republicana, motivos não faltam para explicar o clima pesado que afeta as Bolsas brasileiras.
A Bolsa paulista caiu ontem 4,31%. Em novembro a queda já atinge 8,27%. Os títulos da dívida externa seguem o mesmo desenho. No mercado local continuaram pesando as notícias sobre fragilidade no sistema bancário e reações ao programa do governo voltado ao fortalecimento do setor.
Em suma, há fatores externos e domésticos azedando o humor do mercado financeiro. Mas o recuo do governo na tributação de investimentos externos em Bolsas, o avanço lento, mas seguro das propostas do governo no Congresso, a reversão do déficit comercial brasileiro ou mesmo a manutenção de um câmbio relativamente estável frente às turbulências externas, com fortes entradas de dólares, nada parece reanimar as expectativas desse mercado tão sensível.
Frente ao que parece uma notória divergência entre os fundamentos econômicos e o ciclo de desvalorização das ações, há pelo menos duas hipóteses a considerar. Numa os sinais dos mercados acionários seriam senão irrelevantes, ao menos suficientemente dominados por uma claque especulativa que mereceria pouca atenção.
De fato, o mercado é dominado no dia-a-dia por especuladores profissionais que nem sempre, nem necessariamente, expressarão em suas decisões o que seriam as expectativas supostamente consensuais dos agentes econômicos. Num mercado operando com volumes baixos, como ocorre atualmente, o viés especulativo torna-se ainda mais acentuado.
Noutra hipótese o mercado mereceria atenção, mas estaria exagerando na reação a alguns sinais preocupantes, da mesma forma como exagerou na euforia nos meses que se seguiram à crise mexicana. Ou seja, os fundamentos afinal tenderiam a prevalecer, apesar dessas brutais oscilações no curto prazo.
Mas infelizmente também não se pode descartar uma terceira hipótese, na qual o desânimo dos especuladores talvez estivesse mesmo antecipando dias piores.
Dessa perspectiva, não há como escapar do que foi afinal a constatação mais grave dos últimos meses: o déficit público vem superando todas as expectativas e representa uma real ameaça, no médio prazo, ao plano de estabilização.

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