São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Mulheres lançam a marcha das cem mil

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Mais sensíveis" e "menos corruptas". Com essas e outras louvações ao poder do sexo feminino, líderes políticas das mais variadas tendências lançaram ontem em São Paulo a campanha pela candidatura de 100 mil mulheres às câmaras municipais.
O objetivo é conseguir alcançar a cota mínima de 20% de candidatas em cada partido, como determina um capítulo conquistado pelas mulheres na nova Lei Eleitoral.
A euforia do encontro conseguiu até agitar o apático ambiente da Assembléia Legislativa de São Paulo, onde predomina quase sempre o ritmo lento de votações e o clima sombrio dos corredores.
O movimento é suprapartidário, tem patrocínio da ONU (Organização das Nações Unidas) e conseguiu reunir ontem cerca de cem representantes de vários partidos e todas as centrais sindicais.
A deputada federal Marta Suplicy (PT-SP) comandou o início da chamada "Marcha das 100 mil". Esse número equivale a 20% do total de 500 mil candidatos a vereador em todo o país.
A questão da cota, segundo as líderes da campanha, é um mal necessário. Sem a obrigatoriedade dos 20%, elas avaliam que a participação na vida política continuaria muito restrita.
Estudos do grupo mostram que nos últimos 20 anos a participação feminina no Poder Legislativo cresceu de 1% para apenas 6%.
Nesse ritmo, reclamam, somente daqui a 200 anos irão atingir um índice de 50% de força nas câmaras municipais, assembléias legislativas, Câmara e Senado.
No glossário "politicamente correto" das mulheres, o sistema de cotas é chamado de "discriminação positiva". O exemplo argentino anima a campanha pelas cem mil candidatas. Adotado no país em 1993, a obrigatoriedade da cota feminina elevou de 4% para 13% a participação das mulheres no Legislativo.
"Com cem mil candidatas nas ruas, jamais a relação entre homens e mulheres na política será a mesma no Brasil", disse Marta.
A deputada estadual Edna Macedo, do PPB de São Paulo, também levou a sua fé ao início da marcha das mulheres.
Irmã do bispo Edir Macedo, principal dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus, Edna aconselhou que as mulheres mirassem em exemplos bíblicos nas suas caminhadas. "Uma mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata põe tudo a perder", recitou, sob aplausos, a evangélica.
A preocupação inicial da campanha é com a data limite para filiação partidária, que termina no dia 15 do próximo mês.
Um anúncio publicitário será veiculado na televisão nos próximos dias com esse alerta. A campanha tem dois slogans: "Mulheres sem medo de poder" e "Mulher, chegou a sua vez".
Na sequência, a campanha pretende promover cursos de capacitação. A tarefa pedagógica, segundo algumas líderes, é deixar as mulheres mais preparadas do que os homens para a guerra eleitoral.

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