São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leia a íntegra do pronunciamento

Vivemos num país democrático e podemos nos orgulhar disso. Aqui, todos têm liberdade para ir e vir, falar, seguir qualquer religião, votar em qualquer partido político. O mundo nos reconhece como uma nação tolerante. Mas os direitos de uma parcela da população brasileira ainda não são plenamente respeitados. No Brasil, ainda há discriminação contra os negros.
Eu conheço muito bem esse problema. Antes mesmo de entrar na política, quando era professor na Universidade de São Paulo, estudei o assunto. Em 1960, junto com o professor Octavio Iannes, eu escrevi um livro, "Cor e Mobilidade Social em Florianópolis". Em 1972, publiquei outro livro: "Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional".
O negro lutou por um país mais próspero e mais justo e continua lutando. Na ciência e na literatura, a presença afro-brasileira é predominante. Chegou a hora de enfrentar esse problema com coragem e determinação. Enfrentar com políticas concretas, e nós já começamos. O Ministério da Educação eliminou os livros didáticos que estimulavam o preconceito. A partir do ano que vem, os livros vão chegar às salas de aula, do 1º e 2º graus, sem lições que estimulem discriminação e racismo. E vamos criar um grupo de trabalho para definir outras políticas de valorização da comunidade afro-brasileira.
Os meios de comunicação devem mostrar o negro em condições de igualdade com toda a população. A lei que pune os crimes de racismo deve ser aplicada com mais rigor. A polícia não pode continuar a discriminar, quando aplica a lei. Aliás, a lei precisa ser aperfeiçoada. E eu já pedi ao Ministério da Justiça para tomar as providências.
Além disso, para acabar com a violência policial, vão ser organizados cursos sobre os direitos humanos para os policiais. Já determinei ao Ministério do Trabalho que coloque efetivamente em prática uma convenção da organização internacional do trabalho que determina a igualdade racial no mercado de trabalho. E, nesse processo, o papel dos empresários é muito importante.
Um bom exemplo tem sido dado pelas empresas que estão adotando programas que garantem a igualdade no trabalho. Nós precisamos assegurar as mesmas condições de emprego para todos os brasileiros. Aliás, não só os empresários. Toda a sociedade deve entrar nessa luta. Só assim teremos um Brasil com mais justiça social.
Neste mês de novembro, temos uma grande oportunidade para entrar firme nesta luta. É que, no dia 20, rememoraremos os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, um brasileiro que lutou pelo fim da escravidão. Lutou pela liberdade. E que deixou uma lição que vale muito para todos nós, hoje: o espírito comunitário. Ele viveu no Quilombo dos Palmares, que acolhia negros, índios, judeus e até muçulmanos. Zumbi morreu porque sonhava com uma vida melhor para todos. Não se contentava com a liberdade só para ele.
Agora, as crianças de 1º e 2º graus vão conhecer melhor a história de Zumbi, através de uma cartilha que será distribuída pelo Ministério da Educação e pela fundação Palmares, ligada ao Ministério da Cultura.
No dia 20, o país vai se recordar do tricentenário da morte de Zumbi. Brasileiros de todos os cantos do país vão fazer uma marcha, em Brasília. Já era tempo de reparar o esquecimento. Zumbi dos Palmares é parte da história nacional.

Texto Anterior: Presidente fala sobre Zumbi no rádio e critica racismo na polícia
Próximo Texto: Folha e Ática lançam livro sobre racismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.