São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Beatles retornam por milhões de dólares

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Sexta-feira, um filme novo de James Bond. Domingo, os Beatles na TV e segunda, mais um disco dos "Fab Four".
Uau, que onda! Estes anos 60 são mesmo um barato legal, morou? Não, nada disso. O cardápio acima é a programação cultural dos EUA para os próximos cinco dias, 33 anos depois de "O Satânico Dr. No", 32 após "Please Please Me".
O mundo mudou. Quando apareceram pela primeira vez na televisão norte-americana, em 1964, os Beatles receberam cachê de US$ 3.500 do "Ed Sullivan Show" da CBS, então líder absoluta de audiência.
No Brasil, em dezembro
Domingo, a rede ABC, que disputa com a NBC a preferência do público, vai mostrar a primeira parte de "Anthology", o documentário que marca o retorno dos Beatles, pelo qual pagou a quantia de US$ 20 milhões.
No Brasil, o documentário será apresentado entre os dias 11 e 15 de dezembro, sempre às 22h30, pela Rede Globo.
"Anthology" é uma biografia autorizada. Não tem narração nem texto para evitar conflitos entre os três sobreviventes do conjunto e a viúva de John Lennon, Yoko Ono.
Ono, 62, se recusou a dar entrevistas para o programa, produzido pela Apple e dirigido por Bob Smeaton, mas fez questão de ter direito de veto sobre o que se pretendia colocar no ar.
A primeira mulher de Lennon, Cynthia, e o filho desse casamento, Julian, reclamam que Ono proibiu que eles fossem consultados sobre o filme.
Paul McCartney, 53, George Harrison, 52, e Ringo Starr, 55, deram longas sessões de entrevistas para o documentário. Lennon, assassinado em 1980, aos 39 anos, aparece em vários depoimentos inéditos.
Reencontro histórico
Os três até se encontraram diante das câmeras de Smeaton na primeira reunião pública dos Beatles em 25 anos.
Quem teve acesso prévio a "Anthology" diz que ele é um programa bem feito, conservador em termos de linguagem, no qual as memórias de John, Paul, George e Ringo sobre seu passado comum se chocam com frequência.
Muitas lendas, como a de que os quatro fumaram maconha no palácio de Buckingham, são desfeitas. Nenhuma revelação sensacional é feita.
McCartney admite que embora ele, George e Ringo tenham sido "francos" em seus depoimentos, não foram "brutalmente francos" e que a respeito de alguns assuntos - drogas, por exemplo -, chegaram a ser cautelosos.
Afinal, os Beatles agora têm dez filhos e um neto e se parecem mais com estabelecidos cavalheiros do que com os rebeldes, ainda que bem comportados, de 25 anos atrás.
O fato é que "Anthology" vai ser visto por cerca de 50 milhões de pessoas só nos EUA e marca a retomada oficial da carreira do conjunto musical mais popular da história.
Uma retomada que, segundo Harrison em 1989, no que dependesse dele não ocorreria enquanto John Lennon permanecesse morto.
Depois da morte
Nem a morte impediu que Lennon participasse do projeto até com música inédita de sua autoria gravada pelos quatro graças à tecnologia que já permitira a Natalie Cole em 1991 fazer dueto com seu pai Nat, moro em 1965.
O fato de Paul, George, Ringo e Yoko faturarem estimados US$ 130 milhões com o projeto também pode ter tido algum efeito na decisão de fazer os Beatles renascerem após um quarto de século.
"Live at the BBC", o álbum lançado em 1994 com canções dos Beatles no programa de rádio que tiveram antes de se tornarem os mais famosos artistas do mundo, vendeu 8 milhões de cópias.
Poder de fogo
Foi uma amostra do poder de venda que o nome Beatles ainda concentra. Pode ser verdade que muitos adolescentes não consigam identificar quem é quem diante de uma foto dos Beatles.
Mas não há dúvida de que milhões deles têm interesse em saber mais a respeito desse grupo de que tanto seus pais sempre falaram.
"Anthology" vai ao ar domingo, quarta e quinta da semana que vem às 21h na rede ABC. Em abril de 1996, uma versão ampliada do programa (com dez horas de duração) será lançada em vídeo.
Um livro em dois volumes com a íntegra das entrevistas dos Beatles para o documentário e fotos do acervo da Apple sai em outubro de 1996.
Pelo menos três CDs duplos com versões inéditas de canções dos Beatles serão lançados até dezembro de 1996.

LEIA MAIS
sobre os Beatles na pág. 5-7

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