São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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'Última Sessão' vê passado sem nostalgia

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

A nostalgia é uma manifestação regressiva. Trata-se de olhar para o passado -o experimentado, o vivido- e ver ali um tempo melhor do que o presente. Melhor, em parte, porque sem incertezas.
O "nostalgismo" foi quase um movimento que se estabeleceu no início dos anos 70, e dele "A Última Sessão de Cinema" (CNT/Gazeta, 20h) é uma das manifestações inaugurais.
O filme de Peter Bogdanovich aponta nessa direção ao menos por um motivo: a filmagem em preto-e-branco. Na época, o preto-e-branco já começava a se tornar uma relíquia, mas Bogdanovich visava reconstituir a sensação do cinema tal como se dava no início dos anos 50. De passagem, mostra o que acontece em uma pequena cidade do Texas, onde um grupo de adolescentes efetua sua passagem à idade adulta. Ao lado das questões amorosas, dois tópicos são muito presentes: a Guerra da Coréia e o fechamento do cinema da cidade. Ou seja, os triunfos da guerra fria e da TV.
Bogdanovich usa o passado para falar do estreitamento de um horizonte intelectual já restrito. Ao mesmo tempo, voltava-se para o presente dos EUA, para a Guerra do Vietnã. Mas havia uma barreira bloqueando a passagem passado/presente. Talvez ela se devesse mais à época que ao filme.
O fato é que a seguir o "nostalgismo" se instalou com força. Bogdanovich foi seu principal representante e vítima. Ficou preso às evocações de outras épocas, ao seu sucesso ("Lua de Papel") e seu fracasso ("Nickelodeon").
O filme escapa ao nostalgismo -o cultivo calculado do passado- em grande parte graças à amargura do olhar. Não há complacência em relação ao passado. Não há o movimento regressivo de outros filmes feitos a seguir. Sua vitalidade talvez venha daí.
(IA)

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