São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995
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Vôlei olímpico recorre a espiritismo

SÉRGIO KRASELIS
ENVIADO ESPECIAL A LEME (SP)

Os atletas brasileiros que pretendem disputar os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 96, estão recorrendo à "cirurgia espiritual" como meio de curar suas lesões.
Na visão dos atletas, esgotados os recursos da medicina convencional, os chamados "guias" espíritas estão conseguindo encontrar para eles uma solução aos diferentes problemas físicos.
Os maiores clientes são os jogadores das seleções brasileiras masculina e feminina de vôlei.
Alguns deles, apesar de terem à disposição a infra-estrutura em aparelhos de fisioterapia e computadores a serviço da medicina esportiva, acabaram buscando auxílio na paranormalidade como forma de tratamento.
Antes de viajarem ao Japão para a disputa da Copa do Mundo (torneio que garante aos três primeiros colocados suas vagas para Atlanta-96), Gílson e Virna decidiram se "operar" com o médium Waldemar Coelho, em Leme (190 km a noroeste de São Paulo).
Uma espécie de Chico Xavier (o mais conhecido médium do país) do esporte, Waldemar, como gosta de ser chamado, já atendeu aproximadamente 120 atletas.
As camisetas enviadas por atletas de diferentes modalidades em agradecimento pelos "serviços médicos" prestados por ele forram as paredes de umas das salas do Santuário Ramatis, onde acontecem as "operações".
Uma das pioneiras a utilizar esse tipo de cirurgia foi a jogadora Paula. Em 1981, a então armadora da seleção brasileira de basquete enfrentava um sério problema nos ligamentos de seu joelho esquerdo.
Na época, o médico João de Vicenzo deu o diagnóstico: somente extraindo o menisco seria possível resolver a situação.
O veredicto deixou Paula apavorada. Ela recorreu ao médium Waldemar, indicado pela jogadora Arilza, que atuava na então equipe da Pirelli e conhecia o espírita.
Operada em março de 1982, Paula voltou a Leme 15 dias depois, já sem sentir dores.
Tempos depois, a jogadora teve problema semelhante em seu joelho direito. Recorreu então à cirurgia convencional.
"Tive a oportunidade de conhecer os dois lados da história. Operei os dois joelhos com o Waldemar. O esquerdo ficou bom, mas o direito não. Operei então com um cirurgião e deu tudo certo", disse.
Para João Eduardo Charles, 41, membro do Conselho Regional de Medicina e diretor distrital da Associação Paulista de Medicina, as duas entidades não se posicionam contra a busca individual de fé das pessoas. Mas alerta:
"Apesar de não recomendarmos ou criticarmos qualquer tipo de tratamento, achamos que nesse tipo de atividade há um número enorme de pessoas que enganam os incautos, os mais descuidados ou mesmo desesperados. É preciso cuidado".
O atacante Gílson, um dos titulares da seleção masculina durante a Liga Mundial, acabou vivendo um drama pessoal devido a uma tendinite no ombro direito.
Apesar de não ser necessária uma cirurgia convencional, decidiu procurar no mês passado o médium Waldemar.
Um dos atletas da seleção adeptos do espiritismo (além deles, também adotam a religião Tande, Giovane, Maurício e Nalbert), Gílson foi "operado" pelo médium Waldemar.
"Não sinto mais dor alguma no ombro. Não sei explicar como, mas, depois da operação, consigo jogar sem nenhuma dificuldade", afirma o atacante.
Restrições
Para João Eduardo Charles, 41, membro do Conselho Regional de Medicina e diretor distrital da Associação Paulista de Medicina, as duas entidades não se posicionam contra a busca individual de fé das pessoas. Mas alerta:
"Apesar de não recomendarmos ou criticarmos qualquer tipo de tratamento, achamos que nesse tipo de atividade há um número enorme de pessoas que enganam os incautos, os descuidados ou mesmo desesperados. É preciso muito cuidado".

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