São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 1995 |
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Sonho americano vira pesadelo
INÁCIO ARAUJO
Estamos no coração da tragédia familiar. Kyle (Robert Stack) e Marylee (Dorothy Malone) são herdeiros de um império petrolífero no Texas. Kyle é, além de alcoólatra, apaixonado por Lucy (Lauren Bacall). Marylee é louca por Mitch (Rock Hudson). Mitch, além de melhor amigo de Kyle, também ama Lucy. Tudo está desenhado para um filme lacrimejante. Ora, eis que Douglas Sirk, o diretor, sai de lá com uma obra-prima, das mais representativas do cinema americano nos anos 50. Se, ao longo da trama, as paixões são recolhidas em nome da razão, é apenas para melhor reaparecerem, com a mesma força com que o petróleo jorra sobre a terra. Com a diferença que com o petróleo vem a fortuna. Com as paixões reprimidas, a desgraça. A partir desses personagens, Sirk nos dá a ver um mundo em pleno desequilíbrio. Em certo sentido, estamos diante do melodrama, tal como definiu certa vez: a tragédia transportada ao mundo burguês. Além disso, o que temos é o contrabando de um mal-estar que se insinua ali onde sua presença nunca é suspeitada. O mundo perfeito da América democrática, com plena permeabilidade social, pobres que podem virar ricos, ricos que são amigos de pobres -em suma, o sonho americano-, se desfaz como farinha, como palavras ditas ao vento, e nos introduz aos horrores do pesadelo. Um pesadelo cheio de espelhos, de janelas, isto é, de espaços em que o ser se duplica ou se enquadra. E cheio de cores tão exuberantes quanto são sombrios os destinos que desfilam diante de nossos olhos. (IA) Texto Anterior: ONU por ONU prefiro ONULULU! Próximo Texto: Tudo Band; Recorde; Dever de casa; Cinemané Índice |
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