São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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O gens e a obesidade

ALFREDO HALPERN

A mídia tem difundido a possível utilização de uma substância chamada leptina, que é uma proteína já sintetizada e que faz emagrecer ratos gordos. Como no campo da obesidade os ratos são parecidos com os homens, é lícita a suposição de que a leptina seja a solução para os humanos gordos.
E o mundo dos obesos e dos que assim se julgam mais uma vez se alvoroça: abaixo as dietas e os regimes, abaixo a atividade física, viva a leptina! Infelizmente as coisas não são bem assim. Vamos aos fatos.
O primeiro, é que existem vários tipos de obesos. Voltemos aos roedores: há várias raças geneticamente obesas. Numa, o defeito se dá no gene que fabrica a leptina; como essa é uma substância que diminui o apetite, nessas raças há um excesso de alimentação. É lógico, portanto, que a leptina administrada neles causa diminuição do peso.
Há, no entanto, outras raças de roedores que não apresentam diminuição na quantidade da leptina e sim uma resistência à ação dela. Em outros roedores, assim como em alguns humanos, o defeito é na queima de calorias.
Nos dois exemplos, a ação da leptina não é tão dramática. Em outras palavras: a solução para alguns obesos não é a solução para todos.
Os últimos anos mostraram que obesidade é doença e não falta de caráter. A influência genética na obesidade é indubitável. Indubitável também é que estudos populacionais atestam que a influência genética se dá em 30% a 40% dos casos de obesidade e que, com todos os estudos, pesquisas e tentativas de prevenção e tratamento, o número de gordos no mundo aumenta assustadoramente. Na última década, a porcentagem de obesos nos Estados Unidos aumentou de 25% para 33%!
Há outros fatores, além da genética, responsáveis por este assustador crescimento na prevalência da obesidade; a ingestão alimentar maior é uma grande possibilidade (maior consumo de alimentos gordurosos), mas um fator óbvio é uma vida cada vez mais sedentária.
As crianças não brincam mais nas ruas, a tecnologia e a vida moderna nos fazem despender cada vez menos energia em atividades cotidianas.
Sim, a leptina é uma promessa, assim como o são uma série de substâncias sendo testadas no mundo inteiro para o combate à obesidade. A expectativa exagerada por uma solução rápida e definitiva para o problema da obesidade pode levar a um resultado inverso. Se não tomarmos cuidado, em poucos anos, todos seremos obesos.

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