São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Só em 2060

WILSON BALDINI JR.

A paixão por um esporte muitas vezes não é explicada. Mas, com certeza, este espaço que hoje é reservado ao pugilismo começou a ser cavado há 20 anos. É fácil lembrar. Noite de meio de semana. Toda a família reunida para assistir ao maior lutador brasileiro de todos os tempos.
Com um lustroso calção rosa de veludo, do ex-Galo de Ouro só restavam as penas, categoria em que também se tornou campeão.
E mesmo já veterano, perto dos 40 anos, como era prazeroso vê-lo no ringue. Ninguém perguntava se Éder venceria. Só queriam saber quando ele derrubaria o "gringo". "Ele tem pegada de um médio", exagerava o seu Baldini, com a paixão que acabou influenciando o filho a gostar deste esporte.
Esporte que, como todos os demais neste país sem memória, sofre de total descaso e que tem seu passado jogado no lixo.
É impossível encontrar um pôster do nosso ídolo. E suas lutas, então? Cada imagem precisa ser disputada com uma série de cruzados e uppers.
É no exterior que se vê todo o reconhecimento ao pequeno grande Éder. O todo-poderoso Mike Tyson já afirmou várias vezes ser fã de "Íder Joufre" e que até copiou parte de seu estilo. Nos EUA, seu pôster é US$ 20 mais caro do que de qualquer outro campeão.
E isso tudo foi conquistado sem apoio da TV. Éder era puro talento. Lutava onde, quando e contra quem era preciso. Não foi necessário arrumar resultados para que ele subisse no ringue. Até hoje, em todas as convenções das principais entidades, o seu nome sempre encabeça a lista dos melhores.
Graças ao próprio arquivo do ex-lutador, é possível rever suas principais lutas. Como o combate histórico contra o mexicano Joe Medel, em Los Angeles, na eliminatória para saber quem iria enfrentar Eloy Sanchez na disputa do cinturão dos galos.
O nono round pode ser repetido em horário nobre. Foi fantástica a recuperação de Éder, depois de sofrer um forte castigo.
Com a vitória por nocaute no 10º assalto, Éder "conquistava o título antes de ser disputada a última rodada". A luta contra Sanchez só serviu para cumprir tabela.
Amanhã o Brasil comemora o 35º aniversário do seu primeiro título mundial, obtido em Los Angeles com um nocaute no sexto round. Dizem que um Pelé, um Ayrton Senna, uma Maria Ester Bueno e um Éder Jofre nascem de cem em cem anos. Uma pena! Outro Éder, só em 2060.

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