São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Disney procura animadores brasileiros

DANIELA ROCHA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Animadores brasileiros estão sendo selecionados para fazer nos estúdios Disney o que um dia Salvador Dali já fez: trabalhar na produção e criação de filmes.
O estúdio de Orlando (Flórida) está à caça de brasileiros, depois da bem-sucedida experiência com o animador Marcelo Moura, 28, há dez meses na Disney americana, e atualmente na produção do longa "A Lenda de Mulan".
Hoje e amanhã serão feitas as entrevistas de seleção de pelo menos 40 animadores por uma comissão da companhia. "Estamos dispostos a contratar um, dois ou 20 animadores", afirmou à Folha o chefe de operações do estúdio, Dan Winton, 40.
Tanto entusiasmo se explica por causa da expansão do mercado nos EUA: a Dream Works (de Steve Spielberg), a Warner e a Fox são três grandes concorrentes da Walt Disney Feature Animation e também procuram animadores.
Nos anos 40, no entanto, o mercado americano era restrito e ainda mais seletivo, e Walt Disney recorria a artistas expoentes de várias partes do mundo para convencê-los a trabalhar na criação de cenários e personagens. Foi assim que o pintor catalão Salvador Dali (1904-1989) viveu durante alguns meses em 1946 nos estúdios americanos, até sair, por ter seu projeto de animação fora dos padrões de estilo.
Muitos animadores brasileiros, no entanto, consideram trabalhar nos estúdios Disney um sonho. Entre os selecionados para entrevista que dará ingresso ao "mundo mágico" da animação, está Carlos Alberto Galatola, 34, há 18 anos trabalhando como animador no Brasil e atualmente produzindo animações até para comerciais canadenses e alemães. Para ele, o que mais o atrai à Disney é a possibilidade de estudar.
Segundo Marcelo Moura, o trabalho na Disney é pesado, mas uma série de cursos e seminários em várias áreas são oferecidos aos profissionais para reciclagem e estímulo à criatividade. "Toda semana tem algum treinamento. Já fizemos até aula de atuação."
Enquanto os EUA têm expansão de mercado para animadores, no Brasil o quadro é diferente. A maior parte dos profissionais trabalha com publicidade pela falta de opção, como Alexandre Calheiros, 36. Hoje ele anima a galinha azul Maggi, mas em um estúdio que é réplica do escritório da Disney. "O Brasil tende a ampliar o mercado com as TVs a cabo, mas ainda está difícil."
Outra possibilidade para animadores que está apontando no Brasil é o mercado de videoclipes e de vinhetas para a TV, mas que dependem de um estúdio equipado com computadores e mão-de-obra para viabilizar a produção.
Para alguns profissionais brasileiros, trabalhar na Disney tem apenas um glamour ilusório. "O animador que vai daqui para lá será mais um em meio a centenas que produzem desenhos com as mesmas características", afirma Daniel Messias, dono de uma empresa de animação e design que desenvolveu personagens como o frango da Sadia.
O gaúcho Otto Guerra, 39, diretor do longa-metragem de animação "Rocky & Hudson", também faz comerciais para manter seus projetos. "Tecnicamente a Disney é a melhor escola, mas, para virar um animador sênior, o profissional tem que 'ralar' muito".
O processo de seleção é complexo. Além das entrevistas, os animadores terão de apresentar portfólios específicos de animação. A primeira vez que representantes da Disney vieram ao Brasil em busca de profissionais foi em 1993, e as exigências eram tantas que ninguém foi selecionado.
Um dos candidatos na época foi o animador argentino Jorge Benedetti, 49, há 15 anos no Brasil. "Era complicado demais. Tínhamos que apresentar projetos em cores que tomaria pelo menos um mês para confeccionar", afirma Benedetti, que também será entrevistado desta vez. "Hoje está mais simples, apesar das exigências com padrão de qualidade", diz ele, que no momento prepara um musical de animação com 5.000 desenhos.
O Brasil não é o primeiro país que terá animadores contratados pela Disney. No escritório em Orlando existem artistas de países como Canadá, Rússia, China, Croácia, Austrália, Argentina, Colômbia, Ucrânia, Cuba e Porto Rico.
O escritório de Los Angeles também busca novos profissionais no Brasil, só que de forma diferente. A gerente de treinamento em tecnologia da Disney, Jacqueline Ford Morie, virá ao Rio para apresentar o "making of" do filme "Toy Story" (totalmente animado por computador), e também fará workshop com pessoas interessadas em animação por computador, durante a 5ª Mostra Banco Nacional de Realidade Virtual, no Rio.

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