São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Crise bancária é desafio do Real

MILTON GAMEZ; ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O principal desafio do governo Fernando Henrique é eliminar, de uma vez por todas, o fantasma de uma crise bancária no país. O assunto é prioridade dos ministros e demais membros da equipe econômica.
Conforme atesta o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, o governo está empenhado em fortalecer o sistema financeiro para garantir o sucesso do Plano Real.
Os bancos, afinal, são fundamentais num processo de crescimento sustentado da economia -a meta final do Real.
"Desafio os críticos do programa de estímulo às fusões bancárias a me darem um exemplo de um país que tenha crescido com estabilidade, de forma sustentada, sem um sistema financeiro forte", afirmou Loyola, na sexta-feira, a cerca de 200 executivos do mercado, em São Paulo.
Ele minimizou a iminência de uma crise, mas ressaltou que as ações do governo têm por objetivo matar o mal pela raiz.
"Temos certeza que o sistema financeiro vai se adaptar à queda da inflação. Mas o BC pode ser um elemento importante para permitir as mudanças sob o menor risco possível. Esse é o nosso principal desafio."
Loyola argumenta que toda a economia do país gira em torno dos bancos. Em outros países que passaram por crises inflacionárias, a poupança fugiu para ativos reais, o que não aconteceu no Brasil.
"O programa de estímulo às fusões não é uma vantagem para um setor específico, pois beneficiará toda a sociedade brasileira."
Debelar uma crise bancária antes que ela tome forma é mais barato para o país e muito menos traumático, acrescenta Marvin Goodfriend, vice-presidente do Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano).
"É muito importante montar um sistema preventivo de crises antes que os problemas realmente comecem a acontecer", disse Goodfriend à Folha, por telefone, dos EUA.
Ele fala de cátedra. Os contribuintes americanos já gastaram US$ 25 bilhões para socorrer o falido sistema de poupança e empréstimo do país. A estimativa do governo americano é torrar outros US$ 100 bilhões para resolver o problema.
Também defendem o princípio preventivo do Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) os ex-ministros Mário Henrique Simonsen e Ernane Galvêas.
Ambos concordam que o BC precisa munir-se de poderes para evitar uma crise.
Para Simonsen, o BC deve ter elementos "para forçar os bancos a se corrigirem". Em parte, isso foi feito com a MP baixada na sexta-feira à noite, dando ao BC mais poderes para desapropriar bancos em dificuldades.
Ele lembra que o Fed estabelece uma nota, de um a cinco, confidencialmente, para cada instituição. Os bancos que recebem nota baixa são obrigados a apresentar imediatamente um plano de reestruturação. "Nenhum banco morre de repente", afirma.
Para Galvêas, a MP é "extrema, mas surge para preservar o setor financeiro".
Países como Venezuela, Argentina e México, lembra ele, enfrentaram graves problemas com bancos falidos. "Há precedentes e o BC quer evitar que isso venha a ocorrer no Brasil."

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sobre bancos na pág. 2-3

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