São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
Próximo Texto | Índice

Judeus radicais avançam nos EUA

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Os judeus nova-iorquinos estão tendo que lidar com um assunto que vinha sendo mantido "embaixo do tapete": o crescimento dos grupos de ortodoxos radicais, que se opõem ao processo de paz no Oriente Médio. Nova York é a maior cidade judaica fora de Israel.
O assunto veio à tona após o assassinato do premiê Yitzhak Rabin durante comício pela paz em Tel Aviv no último dia 4.
O maior representante dos extremistas na comunidade religiosa é o rabino Abraham Hecht, da sinagoga Shaare Zion, no Brooklyn, uma das maiores de Nova York. Seus membros são originários da Espanha, do Oriente Médio e da região norte da África.
Em junho passado, durante reunião da Aliança de Rabinos da América, Hecht afirmou que o assassinato de líderes cujas ações ferissem o interesse do povo judeu era "religiosamente" justificável.
Apesar de não ter mencionado o nome de Rabin, todos sabiam que Hecht estava se referindo ao premiê, alvo predileto de seus ataques contra as negociações de paz.
Seu apoio à candidatura do prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, foi considerado determinante para a vitória do republicano.
Entre seus amigos está o banqueiro Edmond Safra, presidente do Republic National Bank.
Quando Rabin foi assassinado, Hecht estava de férias na Flórida e evitou fazer qualquer comentário.
Diante da avalanche de críticas que recebeu, o rabino foi aconselhado pela direção da sinagoga a permanecer no sul dos EUA por tempo indeterminado.
Apesar de Hecht ser um dos rabinos mais importantes de Nova York, o presidente da Shaare Zion, Morris Franco, fez questão de separar a posição de Hecht do resto da congregação.
"Ele (Hecht) cometeu um erro, mas suas palavras nunca tiveram o nosso aval. Estamos de luto pela morte de Rabin como todo o povo de Israel", disse.
Franco não quis explicar porque a sinagoga não puniu o rabino na época em que ele defendeu o assassinato de Rabin.
Hecht pode ter sido o opositor radical que chamou mais atenção, mas ele está longe de ser o último.
A "Algemeiner Journal", revista semanal iídiche com a maior circulação, publicou em um de seus exemplares no ano passado carta de um leitor que chamava Rabin de "Hitler judeu".
O jornal "Jewish Press" (editado em inglês) frequentemente se refere a Rabin como "traidor dos judeus".
Outro foco de extremistas é a Universidade Yeshiva, em Washington Heights. Foi nela que estudou Baruch Goldstein, que no ano passado matou 29 muçulmanos numa mesquita em Hebron.
Dois dias após a morte de Rabin, Norman Lamm, reitor da universidade, convocou reunião com os alunos para advertir sobre os riscos das pregações teóricas.
"É preciso reconhecer a correlação entre a retórica e a ação." Outros professores da Yeshiva, entretanto, discordam de Lamm e afirmam que, apesar de lamentarem a morte de Rabin, continuarão a fazer pregações teóricas rechaçando o processo de paz entre palestinos e israelenses.

Próximo Texto: Saiba como vive a comunidade judaica de NY
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.