São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Unibanco compra lado bom do Nacional

LUÍS NASSIF
DO CONSELHO EDITORIAL

Erramos: 21/11/95
A foto publicada à pág. 2-3 ( Negócios) da edição de ontem é do ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto Júlio César Gomes dos Santos, e não do presidente do Banco Nacional, Marcos Magalhães Pinto (foto acima), conforme informou erroneamente a identificação.
A compra do Nacional pelo Unibanco seguiu o procedimento padrão do mercado americano. Dividiu-se o Nacional em dois bancos: o bom e o mau.
O bom, isento de créditos podres, foi vendido para o Unibanco. O mau, assumindo os passivos de difícil recebimento, ficou sob a administração especial do Banco Central.
Essa separação segue a boa lógica financeira, permitindo maximizar o preço da venda. Se os dados são confusos, a tendência é o comprador reduzir o preço, visando ganhar margem de segurança contra imprevistos. Havendo clareza, paga-se o preço justo pela parte boa adquirida, permitindo sanear a ruim.
No fundo, o que o Unibanco está comprando é o chamado "goodwill" do Nacional -sua reputação. Incluem-se aí 1,3 milhão de clientes, a carteira de créditos bons e a seguradora, entre outras empresas sadias. E, em contrapartida, o passivo do Nacional junto a todos os seus correntistas.
Hoje, aliás, todos os correntistas do Nacional serão oficialmente do Unibanco. Este garantirá o pagamento de quaisquer valores sacados pelos clientes do Nacional. Todas as agências e funcionários do Nacional já foram incorporados pelo Unibanco.
Desde sexta-feira os sistemas de informática de ambos os bancos já estavam sendo interligados para permitir a transição rápida das contas correntes.
A aquisição da parte boa do Nacional não deverá implicar nem subsídios maiores, nem desembolso de dinheiro por parte do Unibanco. A fim de minimizar os riscos da operação, seus controladores optaram por pagar o Nacional com ações do banco.
As ações serão entregues ao Nacional, não a seus controladores. Ou seja, servirão para abater o passivo do banco, dentro do processo de liquidação administrado pelo Banco Central. O Raet (Regime de Administração Especial Temporária) tem prazo de um ano, prorrogável por mais um.
No Nacional "raetizado" (sob administração do Banco Central) ficarão os créditos duvidosos, mais algumas empresas coligadas, como a companhia energética e suas subsidiárias, que não foram aceitas pelo Unibanco.
Caberá ao Banco Central tentar receber os créditos, vender patrimônio do banco e as ações do Unibanco, e cobrar a diferença dos controladores do Nacional.
Até a semana passada, só respondiam com os bens os acionistas que participavam da administração do banco. A medida anunciada na sexta-feira pelo Banco Central estende a indisponibilidade de bens a todos os controladores -um ato corajoso do presidente Fernando Henrique Cardoso, já que atinge os bens de uma das herdeiras do grupo, casada com seu filho.
Tamanho do furo
As negociações entre os dois grupos não registraram conflitos narrados por alguns veículos -segundo os quais as famílias Magalhães Pinto e Moreira Salles confinaram-se em salas distintas, com suas conversas sendo intermediadas pelo Banco Central.
Na verdade, os Moreira Salles foram procurados pelo advogado José Luiz Bulhões Pedreira, em nome da família Magalhães Pinto, com proposta de fusão.
O modelo apresentado não deu certo devido justamente às dúvidas sobre a qualidade do crédito do banco. Depois disso, a única alternativa residia nas decisões do Banco Central sobre a matéria.
Era correta a informação, dada pelo colunista, de que até a semana retrasada os problemas de liquidez do Nacional eram da ordem de US$ 2 bilhões. Apenas na última semana aumentaram para US$ 3,5 bilhões, por conta da boataria que atingiu o banco.
Na largada, o novo banco não será rentável, mas apenas por três a quatro meses. A partir daí, seu balanço já estará positivo. Sua rentabilidade deverá cair no primeiro ano, em função dos custos do ajuste.
A partir do segundo ano, aumentará substancialmente em relação ao quadro atual, devido à economia de escala.

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