São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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Brasília faz marcha contra racismo

DANIELA PINHEIRO
ALEXANDRE SECCO

DANIELA PINHEIRO; ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Marcha contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida, que aconteceu ontem em Brasília, nas comemorações dos 300 anos da morte de Zumbi, reuniu cerca de 4.000 pessoas entre às 12h e 13h, de acordo com a estimativa da PM.
Entre os organizadores do evento não havia um consenso sobre os participantes. O primeiro carro de som anunciava estar presentes 50 mil pessoas. A 500 m de distância, outro carro falava em 20 mil. Até às 18h, a Polícia Militar não tinha o número de manifestantes.
As comemorações começaram às 10h, com uma caminhada de 2 km da rodoviária ao Congresso Nacional. Não houve acidentes ou brigas. Os participantes ficaram concentrados em frente à rampa do Congresso, onde foi montado um palanque para shows. Às 20h30, estava previsto um show com o cantor Milton Nascimento e o conjunto baiano Olodum.
Foram mobilizados 600 policiais para a segurança. O equivalente a um policial para cada 18 manifestantes. Normalmente, a PM do DF mantém um policial para cada mil habitantes.
O presidente do PT, José Dirceu, e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva acompanharam o trajeto. No tumulto, Lula foi interpelado pela missionária evangélica Silvanira Lellis, 53: "Nossa, sempre pensei que você fosse preto."
Jamaica
As cores da Jamaica se destacaram na marcha. A composição da bandeira do país estava nas camisas e nas cabeças dos manifestantes: nos acatês (uma espécie de boné sem aba), boinas à la Bob Marley e nos penteados afros.
"Temos orgulho da nossa raça, do nosso cabelo, da nossa cor", disse Maria Lúcia de Carvalho, 46, do comitê Pró-Marcha de Mulheres Negras.
E os cabelos alisados também estavam lá. "Não gosto do 'pixaim'. Aliso por vaidade e não vou deixar de fazê-lo", afirmou Célia Antônia Bento, 24, do grupo Pró-Casa de Belo Horizonte (MG).
Uma platéia só de brancos ficaria, no mínimo, assustada com os berros de Gilmar Martins, 21, líder do grupo Nação Zumbi. "Logo nós vamos nos armar e, quando estivermos armados, se algum branco gritar, nós vamos matar."
Ele vociferou do alto do palco, com microfone na mão. A platéia gostou, aplaudiu e Martins se animou: "Luta armada é a solução, nós precisamos nos armar, botar na cabeça a luta armada".
O líder deixou o palco sob aplausos. Ele é o coordenador do grupo Nação Zumbi, entidade cultural sediada no Espírito Santo.

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