São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Keitel sobrevive ao pior de sua carreira

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Talvez a maior prova de longevidade de um ator, como no caso do norte-americano Harvey Keitel, seja a capacidade de sobreviver a uma carreira irregular, como mostra um recente pacote de filmes recém-chegado ao mercado.
Um pouco como um irmão menos afortunado de Robert De Niro, Keitel construiu sua carreira no mesmo registro deste: o típico nova-iorquino do Brooklyn, de ascendência italiana, que luta contra o mundo ao mesmo tempo que tenta manter uma fidelidade obsessiva à suas origens.
Um filme próximo dessa imagem de seu início é "Crimes Imaginários" (Warner Home Video), em que Keitel encarna mais uma vez o escroque, o golpista que subverte todas as regras, nem ao menos as reconhece, em nome do puro hedonismo.
Mas nesse filme, de Anthony Drazan, o personagem é apenas pretexto para se construir um drama familiar, quando as duas filhas desse homem, agora viúvo, são obrigadas a abandonar a imagem ideal do pai e assumir sua vida de desonestidades.
Como drama, o vídeo não funciona, e se um dia ele for lembrado será, claro, pela presença de Keitel. Ainda que por vezes ele resvale de forma perigosa no pieguismo.
Outro filme plenamente esquecível é "Meu Pequeno Ladrão" (Europa Vídeo), que traz Keitel como coadjuvante de um macaco.
Dessa vez ele é o homem do realejo que tem um macaco treinado na arte dos pequenos furtos e, que um dia, por obra do acaso, é escolhido para participar de um grande e lucrativo roubo.
A trama é montada nas correrias, tensões e enganos do gênero "ação e suspense". E há também um certo traço de humor, com Keitel fantasiado de cigano com um lenço vermelho.
O maior problema em "Meu Pequeno Ladrão" é exatamente a intenção do riso. Nesses casos, um macaco sempre leva vantagem.
Outro lançamento no território do bizarro é "A Investigação" (Penta Vídeo), de Damiano Damiani. O filme é um policial passado nos primeiros anos da era cristã.
Harvey interpreta Taurus, um enviado do imperador Tiberius à Palestina para descobrir o paradeiro do corpo de Cristo. Uma extravagante tentativa de policial "noir" -pois há também sexo, traição e intriga- que se desenvolve sob o sol do Oriente Médio.
O último filme do pacote é também o que traz Keitel de volta ao território da arte. "Alguém Para Amar" (Lumière Vídeo), dirigido por Alexandre Rockwell -revelado por "In The Soup". O filme é uma homenagem a "A Estrada da Vida", de Fellini, que troca as pequenas vilas italianas por Los Angeles. Uma história de amor entre uma "taxi-girl" e um ator fracassado (Keitel), onde o que se discute, acima de todo o resto, é a cinema e sua capacidade (ou crueldade) em operar a fantasia.

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