São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 1995 |
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FHC diz a assessores que demite mais um
JOSIAS DE SOUZA
FHC mostrava-se insatisfeito principalmente com o diretor da Polícia Federal, Vicente Chellotti, e com seu superior, o ministro da Justiça, Nelson Jobim. O presidente acha inconcebível que ninguém o tenha informado sobre a investigação em torno de um de seus mais próximos auxiliares, o ex-chefe de cerimonial da Presidência da República Júlio César Gomes dos Santos. Graziano Fernando Henrique considera que o episódio não pode passar em branco, sob pena de comprometimento de sua autoridade. Um dos interlocutores do presidente mencionou a hipótese de a escuta das conversas telefônicas mantidas por Santos ter sido determinada por alguém do próprio Palácio do Planalto. FHC foi enfático: seja quem for, vai pagar. Citou-se especificamente na conversa o nome de Francisco Graziano, ex-chefe de gabinete de Fernando Henrique e atual presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Graziano é um desafeto do diplomata Júlio César. O atual dirigente do Incra queixava-se nos bastidores de tentativas do diplomata de influir na elaboração da agenda de Fernando Henrique. Ontem, em conversa com jornalistas, o repórter-fotográfico Mino Pedrosa, da agência "Free-Press", revelou ter sido ele a fonte de informação da revista "IstoÉ", que publicou transcrições das fitas que resultaram da escuta telefônica de do ex-chefe de cerimonial. Pedrosa disse ter obtido o teor das gravações junto a contatos que mantém na Polícia Federal. Suas declarações estimularam ainda mais a especulação de que Graziano pode estar por trás da operação dos agentes federais. O repórter-fotográfico é sócio do jornalista Augusto Fonseca, atual assessor de imprensa da presdiência do Incra. A agência "Free-Press" prestou serviços a Fernando Henrique à época em que era candidato à Presidência, em 1994. Graziano nega envolvimento com o episódio. FHC revela em seus diálogos privados a suspeita de que a PF tenha realizado outros "grampos telefônicos. Acha, inclusive, que outros auxiliares podem ter sido vítimas de escuta clandestina. Jobim desgastado O presidente disse que as explicações da polícia não se sustentam. Estão recheadas de contradições. Diz-se, por exemplo, que a escuta foi feita para investigar denúncias anônimas de envolvimento de Santos com narcotráfico. Mas o relatório final da PF registra outro tipo de suspeita: tráfico de influência. Ainda que não seja ele o demitido, Jobim teve seu prestígio abalado no Planalto. O presidente acha que ficou demonstrado que ele não contrala a PF. FHC revelou ainda a intenção de reformular a polícia. Texto Anterior: Segurança nacional Próximo Texto: PERGUNTAS SEM RESPOSTA Índice |
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