São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 1995
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Deputado é acusado de receber R$ 300 mil

JUCA KFOURI; EMANUEL NERI
COLUNISTA DA FOLHA

EMANUEL NERI
Gravações telefônicas feitas pela polícia de São Paulo com autorização judicial comprometem a CPI do Bingo e fazem referências a R$ 300 mil que teriam sido pagos por bicheiros e donos de casas de bingo ao deputado Marquinho Chedid (PSD-SP), um dos membros da CPI.
As gravações envolvem o bicheiro Ivo Noal, um dos advogados de seu grupo, Francisco Franco, e três auxiliares de Noal -Luiz Buono, Valdomiro Garcia Júnior e Roberto Forte Pena.
Também participa da conversa o empresário Ricardo Steinfeld, dono do bingo Liberty Plaza, na avenida Liberdade, centro de São Paulo. Auxiliar de Noal e sócio de Steinfeld, Valdomiro Garcia também fala de seu depoimento na CPI do Bingo.
A pedido do delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, da 89ª Delegacia, do Portal do Morumbi (zona oeste de São Paulo), as gravações começaram a ser feitas no dia 21 de julho. Foram autorizadas pelo juiz corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais, Francisco Bruno.
O objetivo das gravações era desmantelar o esquema de cassinos clandestinos de Ivo Noal. Mas as conversas acabaram revelando a existência de uma "caixinha" destinada à CPI do Bingo.
Embora haja referências genéricas a deputados da CPI, apenas Marquinho Chedid é citado nominalmente como tendo recebido dinheiro da "caixinha". As gravações falam inicialmente que Chedid recebeu R$ 100 mil; depois, referem-se a R$ 300 mil.
Em conversa entre Roberto e Bueno, o primeiro comenta: "Puseram cem paus na mão desse Marquinho Chedid". Numa segunda conversa, entre Buono e Steinfeld, o segundo afirma que tentaram reduzir os R$ 300 mil pedidos por Chedid.
"Ele falou que não, que era 300 mesmo", diz Steinfeld. Segundo ele, a negociação em torno da redução do preço da "caixinha" foi comandada pelo advogado Francisco Franco.
"Depois da grana, foi tranquilo. Foi moleza. Puta que pariu", diz Valdomiro, ao falar do tratamento recebido ao depor na CPI. As gravações também fazem referências à deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), presidente da CPI.
Trata-se de uma conversa entre Valdomiro e Buono. Dizem que um agente federal teria pedido dinheiro em nome da Zulaiê para não dar uma blitz no bingo Liberty. Mas eles próprios põem dúvidas sobre a origem desse pedido.
Na conversa seguinte, Roberto liga para Buono para fazer a mesma queixa: "Estão pedindo dinheiro em nome da Zulaiê", afirma Roberto. Mas diz que as tentativas foram rechaçadas. "Isso deve ser achaque", declara Buono.
Em outra conversa, o advogado Franco orienta Steinfeld sobre seu comportamento ao depor na CPI. "Não cumprimente ninguém. Não dê bandeira", afirma. Depois, o advogado chama Noal de "capo".
"Capo" é o tratamento usado pelos mafiosos italianos para se referir aos chefes. "Se perguntarem do nosso capo, pelo amor de Deus, você diz que não conhece", afirma o advogado.
"Vazamento"
Há duas semanas, Zulaiê foi informada pelo delegado Mauro Marcelo Lima e Silva sobre as gravações que estavam sendo feitas em São Paulo. Na reunião, também estava presente o procurador-geral de Justiça de São Paulo, José Emmanuel Burle Filho.
Eles pediram para Zulaiê manter sigilo sobre as gravações para não prejudicar as investigações sobre os cassinos de Noal. A polícia responsabiliza a deputada pelo "vazamento" da notícia, o que teria prejudicado as investigações.

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