São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 1995
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TEMA C (CARTA)

"Na luta contra a Aids defrontam-se os rigorosos, que exigem respeito aos princípios preventivos básicos e corretos, contra os complacentes. Aqueles exaltam o valor do relacionamento sexual responsável, o combate efetivo à toxicomania e a adequada seleção e doadores de sangue. Os outros preconizam coisas mais agradáveis, como por exemplo desbragado e a doação gratuita de camisinhas, a distribuição de seringas com agulhas a drogados e a perigosa, além de problemática, lavagem delas com água sanitária. Agora, os permissivos, que não estão obtendo qualquer vitória, pois a doença afigura-se cada vez mais difundida, ganharam novo aliado: o Conselho Federal de Entorpecentes (Confen), que concordou com o fornecimento de seringas e agulhas, sem ônus, aos viciados. Portanto, esse órgão público associou ilegalidade à complacência".

(Vicente Amato Neto (médico infectologista), Painel do Leitor, Folha de S. Paulo, 18/09/94)

A carta acima faz referência a uma proposta polêmica do Confen (Conselho Federal de Entorpecentes): o fornecimento gratuito de seringas e agulhas a viciados em drogas injetáveis.
a) Caso você concorde com a proposta do Confen, escreva uma carta ao Dr. Vicente Amato Neto, procurando convencê-lo de que ela pode de fato contribuir para evitar a disseminação do vírus da Aids.
b) Caso você discorde dessa proposta, escreva uma carta ao Presidente da Confen, procurando convencê-lo de que ela não deve ser posta em prática.
Ao desenvolver sua redação, além de expor suas opiniões, você deverá necessariamente levar em consideração a coletânea abaixo.

1. Graças a uma legislação liberal, a maior cidade suíça (Zurique) criou uma área especial -Letten, uma estação de trens desativada- onde é possível comprar e usar heroína em plena luz do dia. (...) Desde 1992, quando os junkies se mudaram da Platzpitz, uma praça no centro da cidade, para Letten, o consumo não pára de crescer - um fato atestado pelas 15.000 seringas descartáveis distribuídas diariamente na velha estação. A única vantagem é que a distribuição reduziu o ritmo de disseminação da Aids.
* junkies: termo inglês que significa drogados.

(O pico à luz do dia, Veja, 07/09/94)

2."Em nosso país, exige-se o diploma para que alguém aplique injeção endovenosa, porque pessoas não treinadas criam perigos para si ou para outros, ao realizar inoculações. Fornecer agulhas e seringas a pessoas não habilitadas para seu uso é como dar um carro a menores de idade, ou uma arma a quem não sabe utilizá-la. Isso é pelo menos indesejável para a sociedade, além de ser ilegal. No caso, a ilegalidade se tornaria incontrolável, pois o distribuidor dos medicamentos e agulhas seria o próprio Estado.
A proposta de um programa como esse não leva em conta a realidade, causando desperdício de recursos já precários. Tais propostas são feitas por pessoas que nunca viram, de fato, como funciona uma "roda, provavelmente dirigentes sem formação médica e sem assessoria adequada 9sociológica etc.). Não é difícil adivinhar que se trata de um plano que só beneficia vendedores de agulhas e seringas e burocratas de escritório, não tendo qualquer consequência para a epidemia da Aids".
* roda: prática, comum entre drogados, que consiste no uso de uma mesma seringa por várias pessoas.

(adaptado de Vicente Amato Neto & Jacyr Pasternak, A doação de seringas e agulhas a drogados, O Estado de S. Paulo, 05/09/94)

3."A distribuição de seringas para usuários de drogas pode diminuir pela metade a taxa de propagação do vírus da Aids neste grupo de risco. A conclusão é de uma pesquisa realizada na Universidade johns Hopkins, de Nova York, que envolveu 22 mil pessoas em vários bairros nova-iorquinos. (...)
Antes do programa, uma seringa era emprestada, alugada ou vendida em média 16 vezes nos bairros onde foi feito o controle. O programa reduziu este número em quatro vezes.
Existem 200 mil usuários de drogas injetáveis em Nova York, metade deles infectados com o vírus da Aids.

(Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, Folha de S. Paulo, 02/11/94)

4. "(No futuro, pagaremos) caro pela ignorância e irresponsabilidade do passado. Acharemos inacreditável não havermos percebido em tempo, por exemplo, que o vírus da Aids, presente na seringa usada pelo adolescente da periferia para viajar ao paraíso por alguns instantes, infecta as mocinhas da favela, os travestis na cadeia, as garotas da boate, o meninão esperto, a menininha ingênua, o senhor enrustido, a mãe de família e se espalha para a multidão de gente pobre, sem instrução e higiene. Haverá milhões de pessoas com Aids, dependendo de tratamentos caros e assistência permanente. (...)"

(Drauzio Varella, A era dos genes, Veja 25 anos - Reflexões para o futuro, 1993)

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