São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 1995
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Armamento pesado; Os mais iguais; Dívida antiga; Arrogância; Comparação infeliz; Mau pagador; Bíblia

Armamento pesado
"Meus pais nasceram e vivem até hoje na zona rural, possuem um pequeno sítio de 12 hectares onde moram e trabalham. Toda a família sempre foi muito pacata, meu pai em especial. É do tipo que leva desaforo para casa para não brigar. Mas hoje, 40 anos depois de ter nascido, descobri que meu pai é um criminoso. Lá em sua casa possui, se não me falha a memória, três enxadas, dois enxadões, um machado, duas foices, um forcado, uma marreta e até uma picareta. Minha mãe, pasmem, possui cinco facas... Tudo isso porque li no jornal de hoje que a polícia prendeu alguns sem-terra em Santa Catarina por porte ilegal de armas similares às relacionadas acima."
Roberto Deben (São Paulo, SP)

Os mais iguais
"Os processos contra Collor e Zélia foram arquivados por falta de algo que se disse ser provas. Os assassinos de Pixote ficarão livres graças a uma conveniente prescrição de penas. A mãe de família sem-terra Diolinda ficou 17 dias presa graças a um esdrúxulo processo de roubo de gado onde o único suspeito nada tinha a ver com o MST. Há uma decisão do STJ que eleva o sigilo bancário dos ricos à condição de 'direito e garantia individual'. De todos os podres poderes deste reino, o Judiciário é talvez o mais nauseante pela quantidade de injustiças que produz e pela sensação de impotência que provoca no cidadão comum."
José Augusto Vasconcellos Neto (Campinas, SP)

Dívida antiga
"Em vista do 'genial' projeto de indenizações para os descendentes de africanos, elaborado pelo Movimento pelas Reparações Já, venho sugerir aos nossos legisladores e diplomatas: 1) propositura de lei visando fixar indenizações aos indígenas, pagas pelo Estado ou pelos brancos, devido à expropriação de suas terras pelos colonizadores europeus que aqui chegaram a partir do século 16; 2) que na ONU defendam uma resolução obrigando os descendentes dos hunos e visigodos a indenizar os descendentes europeus que sofreram perdas com as invasões bárbaras dos séculos 4 e 5."
Marco Antonio S. Vieira (Belo Horizonte, MG)

Arrogância
"Não há como não ficar revoltado com a arrogância manifestada pela Folha na resposta dada ao deputado federal Luis Roberto Ponte na edição de 5/11. A mim me pareceu perfeitamente plausível e ética a atitude do deputado, e suas explicações bastante sinceras e coerentes só não surtiram efeito no autor do editorial da Folha, pois ele continuou a repetir, sarcasticamente, as afirmações anteriores."
Abel Rosato (São José dos Campos, SP)

Comparação infeliz
"A fala do presidente Fernando Henrique Cardoso na instalação do 1º Encontro de Cultura Brasileira, se de fato foi dito que 'cultura de massas é ilusão e que o exemplo dos caminhões com grife aponta para o nascimento de um novo tipo de relação entre produtor e consumidor, seja de caminhões, seja de artes plásticas ou de filmes', é no mínimo arrepiante. Guardadas as devidas proporções quanto aos diferentes critérios de formação, capacitação, qualificação profissional que os dois nobres ofícios requerem, quase nunca poderão ser comparados e igualados. O professor deve saber das diferenças entre assinar os chassis de caminhão e o quadro, filme ou espetáculo ou então deve procurar saber. Quanto às artes, esse 'novo' tipo de relação entre o produtor e consumidor é tão antigo quanto andar para a frente."
Ligia de Paula Souza, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Mau pagador
"A propósito do esclarecimento do sr. secretário municipal de Finanças, na edição de 31/10, ao jornalista Marcelo Beraba, cumpre discordar da afirmativa: 'Além do mais, todos sabem que a prefeitura paga seus compromissos rigorosamente em dia...'. Isso porque três requisitórios judiciais de natureza alimentar de números EP.1.613/89, EP.838/90 e EP.1.201/90 estão vencidos desde abril e até hoje não foram saldados, em desrespeito ao Judiciário e aos funcionários municipais. Já que 'a situação da prefeitura é inquestionavelmente boa', não dá para entender o não-pagamento."
Celia Mollica Villar (São Paulo, SP)

Bíblia
"Sobre o artigo 'Em nome de Deus' (26/10), de Otavio Frias Filho: confrontado com a história, o texto que afirma 'os motivos podem ser fúteis, mas não as motivações, pois afinal sempre se trata de comércio das almas vertido em boa moeda sonante' merece reparo. A 'separação' dos 'protestantes' da Igreja Romana provavelmente foi o maior exemplo de que o dinheiro não deveria preponderar. Lutero se insurgiu contra as 'indulgências', forma que pressupunha a existência dos antibíblicos 'purgatório' e 'expiação de pecados mediante obras'. A partir de Lutero, o objetivo maior do cristianismo, que é a salvação, passou a ter em Nosso Senhor e salvador Jesus Cristo a única pessoa que, abandonando temporariamente sua posição de divindade, nasceu entre os homens, permaneceu sem pecado e, por isso, preencheu o requisito de Deus Pai, de tal modo que serviu como cordeiro sem mácula para o sacrifício definitivo. Desse modo, somente o senhor Jesus Cristo reuniu condições para livrar o homem das consequências do pecado, mediante a fé. Por isso é que se diz que a salvação é gratuita. Tal salvação, além do mais, só é possível obter durante a vida. Para a Igreja Romana a salvação é universal, ao passo que para os evangélicos, aí incluídos naturalmente os 'protestantes', apenas aqueles que crerem no filho de Deus é que se livrarão das penas eternas durante suas existências físicas. Justamente por não crerem na chamada salvação universal e por crerem que com a morte física as pessoas têm seu destino selado é que os evangélicos se ocupam de converter as pessoas ao cristianismo. Os evangélicos são preocupados e ocupados com o destino das pessoas em geral. Quando morrem, coerentemente, nenhuma atitude adotam com respeito ao fisicamente morto, porquanto, além de não poderem se beneficiar de qualquer iniciativa humana dos que aqui vivem, nem mesmo consciência do que aqui se passa os mortos têm. Têm a doutrina da Igreja Romana que põe Maria ou qualquer outro ser humano na posição de divindade intercessora como norma antibíblica perigosíssima porque: a) Maria, como as demais pessoas que já não vivem entre nós, nada sabe sobre o que aqui se passa; b) não tem ela, portanto, qualquer possibilidade de intervir por quem quer que seja (a Bíblia afirma que tal função é do senhor Jesus e do Espírito Santo); c) não aceitando a teoria espírita de que espíritos 'desencarnados' possam estar livres de estar na presença de Deus ou 'dormindo' onde 'nada sabem', o mesmo se aplicaria ao caso de Maria, que morreu fisicamente, a respeito de quem a Bíblia não informa que tivesse sido ressurreta. Estaria com Deus ou dormindo, de nada sabendo a nosso respeito; d) para o evangélico, por mais absurdo e pretensioso que soe, sua crença é de que, deixando de viver fisicamente, sem ter aceitado a salvação que só o Filho de Deus pode dar, a pessoa não poderá viver na presença de Deus, independentemente das obras que tenha praticado, porque a salvação só pode ser gratuita, e pela fé, tendo como plenamente suficiente o pagamento já feito pelo Senhor Jesus, tudo conforme Lutero já dissera em 1500. Agora sim é possível melhor aquilatar se o que subjaz na chamada questão da intolerância é, um última análise, dinheiro ou, como na época de Lutero, aplicabilidade dos textos bíblicos."
Walter Lopes Araujo (Barueri, SP)

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