São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 1995 |
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De corvos e de anjos
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Que o poder corrompe, sabe-se desde o começo dos tempos. Que deslumbre tanto quanto se está vendo na era tucana, suspeito que é novidade.Comecemos pela dispensa da oposição, pregada por FHC no jantar que ofereceu domingo aos jornalistas, no Hotel Jatiúca, em Maceió (AL). Fazer oposição a "um bom programa está errado, pois significa oposição ao Brasil", acha FHC. Muito bem. E quem define, sem possibilidade de contestação, que um programa é bom ou ruim, no todo ou em parte? Só Deus, e assim mesmo apenas para os que nele acreditam. Daí para baixo, qualquer um tem o direito e, mais, o dever de encontrar defeitos e, por extensão, fazer oposição. Passemos às declarações de ontem, segundo as quais quem critica o projeto Sivam exibe "espírito de corvo" e busca "cheiro de carniça", pois não há uma só irregularidade a se apontar no projeto. Há, sim, uma sombra enorme sobre a gênese do processo. O jornal "The New York Times" informou, faz tempo, que a CIA apurara tentativa de suborno de autoridades brasileiras por parte da firma francesa Thomson, derrotada pela norte-americana Raytheon na escolha para executar o Sivam. Qualquer pessoa que não tenha "espírito de anjo" suspeitará que, se houve essa tentativa por parte da perdedora, pode ter perfeitamente havido -e com muito mais lógica- da parte da vencedora. Até porque o capítulo concorrências públicas está recheado de maracutaias no mundo todo. Só para mencionar uma área próxima do Sivam, a aviação, escândalos envolvendo a Lockheed, também norte-americana, já derrubaram governos no Japão e na Itália. Como não se investigou o eventual suborno da Thomson, o tal "cheiro de carniça" paira, sim, no ar. Os exageros imperiais do presidente só podem ser efeito do deslumbramento com o poder. Ele nem precisou de parabólica, no jantar de domingo, para ironizar três chefes de Estado estrangeiros e dois ex-presidentes brasileiros. Só faltou sair para a praia cantando "eu me amo, eu me amo". Texto Anterior: Telépula Próximo Texto: Cheiro de carniça Índice |
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