São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Ravache mostra seu álbum de recordações

MONICA MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Irene Ravache encena uma coleção de 215 fragmentos de memórias no Teatro Hilton. "Eu me Lembro", dirigido por Ulysses Cruz, é como um álbum de pequenas recordações. Marcantes ou não, elas são um passeio pela poesia, pela política, pelos movimentos artísticos, pelas memórias e comportamento de quem viveu as décadas de 50, 60 e 70.
Mas traz aforismas que atravessam gerações falando de música, cinema, filosofia e relembra piadas e chistes gravados no imaginário nacional.
"Eu me lembro" condensa referências díspares. De Sarte ao Rhum Creosotado, da morte de Getúlio a Chet Baker cantando "My Funny Valentine", de Goethe ao tricampeonato do Flamengo em 55.
"Pode parecer banal. Mas nossa intenção não foi ficar só relembrando, porque é um texto que não pode ficar só no passado. É sobre o passado, mas deve estar colocado no presente", diz Ulysses Cruz lembrando que a encenção também depende de uma platéia talentosa.
"É um ritmo de informações que bombardeia o espectador, e o maior desafio foi compor uma dramaturgia para esse texto. Uma peça que não é peça", afirma o diretor.
Concebido e ensaiado em seis semanas, o espetáculo é uma teatralização do livro "Memorando", editado pela Companhia das Letras. A publicação, dos jornalistas Geraldo Mayrink e Fernando Moreira Salles, foi inspirada no livro "Je me Souviens", de Georges Pérec, que também foi levada ao teatro por Samy Frey.
Irene Ravache faz a versão teatral de "Memorando" apoiada em um cenário limpo. "É apenas um banco", diz a atriz, afirmando que a composição de uma dramaturgia sem personagem foi o maior desafio. "Em cena está uma mulher. Eu mesma. Não tem ação, mas a ilustração do que digo", afirma.
A atriz acrescentou alguns "cacos" ao texto original. "Os verbetes sobre amor e casamento trazem uma visão masculina. Eu acrescentei um 'Eu me lembro' que diz: 'Eu me lembro de muita dor e de uma voz dizendo é um menino, e que a dor passou na hora"', diz Ravache, satisfeita com seu primeiro trabalho com Cruz. "Gostaria de fazer um personagem masculino de Shakespeare com direção de Ulysses", afirma Ravache. Cruz prepara a pré-produção do "Rei Lear", com Paulo Autran, e da peça de Ricardo Semler "Cheque ou mate", texto trata de sequestros estrelado por Raul Cortez.

Peça: "Eu me lembro"
Autores: Geraldo Myrink e Fernando Moreira Salles
Direção: Ulysses Cruz
Elenco: Irene Ravache
Quando: Pré-estréia dias 25 e 26 de novembro, estréia 1 de dezembro. Quinta a sábado, às 21h; domingo, às 19h.
Onde: Teatro Hilton. Av. Ipiranga, 165. Tel. 259-6508
Ingressos: Quintas, sextas e domingos R$ 20. Sábados, R$ 25.

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