São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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'Terra Estrangeira' reforça estigma do exílio na obra de Walter Salles

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Terra Estrangeira
Produção: Brasil, 1995, 100 min.
Direção: Walter Salles e Daniela Thomas
Elenco: Fernanda Torres, Fernando Alves Pinto, Luis Melo
Onde: Espaço Banco Nacional 1, Lumière 1 e Morumbi 5

Há em "Terra Estrangeira", segundo longa de Walter Salles -dessa vez dividindo a direção com Daniela Thomas- o desejo de uma evolução, a vontade de abandonar um território restrito.
O que existe no filme que estréia hoje, portanto, é a tentativa de diluir um dos clichês a respeito de seu trabalho: a fatalidade de estar realizando um cinema publicitário, preso a uma estética que hoje se sustenta apenas como curiosidade. Como nos franceses Luc Besson e Léos Carax.
Seu filme, rodado em preto-e-branco, é um drama sobre relações afetivas e descobertas existenciais que usa um enredo policial como subtema.
Na história, um esquema de tráfico de pedras preciosas entre o Brasil e Portugal envolve um jovem paulista e uma brasileira (Fernanda Torres) vivendo em Lisboa.
Estamos em um território de puro exílio: da mulher que está longe e deseja voltar e um outro, de um rapaz que sonha em partir. O filme acontece no encontro entre essas pessoas, se realiza na troca de desejos que é o atrito gerado entre a aproximação e o afastamento.
Pela primeira vez, talvez por estar dividindo a direção, Salles, por vezes, parece querer enfrentar uma dúvida clara para aqueles que assistem a seus filmes. Descobrir o que em seu trabalho é influência ou imitação, moda ou moderno e o porquê de uma certa ojeriza à tradição do cinema nacional.
Mas seu desejo de evolução termina por esbarrar na insistência da imagem cuidadosamente elaborada, em personagens que parecem -apesar da excelência de todos atores no filme- não existir de fato, e apenas servem para que se possa criar suas belas imagens.
"Terra Estrangeira" não é então um filme a que se possa dizer não de imediato, em que a negação é inerente a sua existência. O que acaba criando é uma certa frustração por se perder em meio às suas próprias exigências de beleza, refinamento e "qualidade".
O Brasil, e as terras estrangeiras, por vezes são também terríveis. E isso é algo que se pode -ou por vezes se deve- mostrar ao espectador sem mediações, sem tiros e recursos fáceis dos mais rasteiros dramas policiais.

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