São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
Próximo Texto | Índice

Argentino quer ter a maior coleção de arte

Comprador do 'Abaporu' dá preferência aos latinos

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O banqueiro argentino Eduardo Costantini, 49, virou manchete dos principais jornais brasileiros ao arrematar, na segunda-feira passada, a tela a óleo "Abaporu", de Tarsila do Amaral, por US$ 1,3 milhão. O leilão foi realizado na Christie's, em Nova York. Foi o maior valor já pago por um quadro brasileiro.
Costantini ficou famoso entre colecionadores de arte moderna latino-americana ao comprar, no ano passado, "Retrato de Macaco com Papagaio", da mexicana Frida Khalo, por US$ 3,19 milhões (leia texto abaixo).
Com a aquisição do "Abaporu", Costantini passou a ser um dos mais importantes colecionadores de arte da América Latina.
Vaidoso, ele afirma que quer que sua coleção se torne visível. Por isso, não tem medo de se expor, nem de dar entrevistas.
"A única exigência que faço é que não perguntem sobre minha vida pessoal. Tenho que manter a privacidade da família", afirmou Costantini em entrevista exclusiva à Folha , na quarta-feira.

Folha - De onde vem seu interesse por arte latino-americana?
Eduardo Costantini - Começou por acaso. Não venho de uma família que tenha tradição em arte. Quando era criança, havia uma galeria a duas quadras de casa. Sempre que passava pela frente parava para olhar e pensava que, quando crescesse, gostaria de ter um deles.
Folha - Quando o sr. comprou seu primeiro quadro?
Costantini - Há 27 anos. Eu tinha 22 e finalmente havia conseguido reunir dinheiro suficiente para comprar um. Foi uma tela a óleo de Pettruti, um pintor argentino que continua sendo um dos meus prediletos até hoje.
Folha - Nessa época o sr. já pensava em virar colecionador?
Costantini - Não lembro, talvez sim. Sempre gostei de colecionar. Na adolescência, tinha coleção de selos. Consegui algumas raridades e guardo muita coisa até hoje.
Folha - Quantos quadros o sr. tem hoje?
Costantini - Aproximadamente cem. Estão todos na minha casa em Buenos Aires. Mas a coleção está sempre crescendo. Agora mesmo, estou levando quatro, incluindo o de Tarsila do Amaral.
Folha - Sua coleção é basicamente de arte moderna. É uma opção consciente?
Costantini - Claro. A pintura moderna foi que sempre me atraiu. E quando comecei a colecionar, achei que era importante me concentrar em uma área só. Tinha que ser objetivo, porque não dá para comprar tudo.
Folha - O sr. é proprietário de dois dos quadros latino-americanos que estão entre os cinco mais caros da categoria...
Costantini - Minha coleção é de primeira classe. Não perco tempo comprando bobagens. Quero ter as pinturas mais importantes dos melhores pintores modernistas e latino-americanos.
Folha - O sr. conhece a história do movimento e seus reflexos em outras áreas?
Costantini - Para ser sincero, não. Eu não sou um estudioso do modernismo, apenas gosto das pinturas latino-americanas feitas a partir de 1910.
Folha - Quais quadros o sr. está namorando no momento?
Costantini - Isso é segredo. Se eu disser, o preço dispara.
Folha - Há alguma obra brasileira na mira?
Costantini - Quero um bom quadro de Portinari porque só tenho uma gravura. Os dois que tenho de Di Cavalcanti também não estão entre os melhores e, por isso, estou interessado em sua obra. Folha - E como faz para saber quais são as obras mais importantes, os melhores pintores?
Costantini - Fiz muita besteira quando comecei a colecionar. Comprei obras que não tinham a menor importância só porque eram de pintores que tinham nome. A gente aprende através dos erros. Sou colecionador há 27 anos.
Folha - Além de participar dos leilões, como o sr. fica conhecendo as obras?
Costantini - Pelos livros. Os grandes artistas têm todo o seu trabalho documentado em livros.
Folha - O sr. já perdeu algum quadro que gostaria de ter para outro colecionador?
Costantini - Já, mas é muito raro. No ano passado, perdi um quadro de Berni que estava querendo há anos. Estava negociando com o proprietário e um outro colecionador fez uma oferta mais atraente.
Folha - As obras da coleção foram compradas em leilões?
Costantini - Não. Prefiro fazer ofertas diretamente ao pintor ou à família, no caso de ele já ter morrido. Porque as melhores obras estão lá. Só que este é um processo que dá muito mais trabalho do que comprar em leilões.
Folha - Por quê?
Costantini - Porque o autor tem um envolvimento emocional com a obra e a família também. É muito mais difícil barganhar. Espero momentos propícios, como divórcios ou crise financeira.
Folha - O sr. acha que o mercado de arte latino-americana está em alta?
Costantini - É muito variável e instável. Depende da situação econômica de cada país. Para investidores, é um mercado arriscado.

Próximo Texto: Costantini já investiu US$ 5,7 mi neste ano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.