São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Universal dobra posse de TVs e vira 3ª rede

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, tem hoje a terceira maior rede de TV com concessão própria do país. São 14 emissoras: 10 registradas em nome de membros da igreja e mais 4 das quais eles são sócios.
Só as famílias Marinho (proprietária das Organizações Globo) e Sirotsky (proprietária da RBS), têm mais emissoras próprias do que a Universal. Os Marinho têm 17 concessões e os Sirotsky, 16.
O número de emissoras da Universal mais do que dobrou em 1995. Até o ano passado, eram apenas 6: 3 em São Paulo, 1 no Rio de Janeiro, 1 em Belo Horizonte e outra em Goiânia.
Neste ano, foram feitas 8 aquisições: 3 em Santa Catarina, 4 no Paraná e 1 na Bahia. Segundo o diretor-superintendente da Rede Record, Dermeval Gonçalves, isso custou US$ 30 milhões.
Até o final do ano que vem, a Universal quer fazer da Record a maior rede de televisão com concessões próprias do país. Os planos para 96 prevêem a compra de emissoras em Brasília, Belém, Recife, Natal e Fortaleza.
Gonçalves diz que nenhum grupo econômico investe tanto hoje em televisão quanto a Igreja Universal e é isso, segundo ele, que está provocando a reação da Rede Globo. "A questão religiosa é apenas pano de fundo", afirma.
Edir Macedo começou a montar sua rede de televisão há apenas cinco anos, quando adquiriu, por US$ 45 milhões, as três emissoras da Record, no Estado de São Paulo, que pertenciam a Silvio Santos e Paulo Machado de Carvalho.
Segundo Gonçalves, o sistema de TV da Universal vale hoje cerca de US$ 300 milhões e emprega 1.500 funcionários.
Em fevereiro deste ano, a igreja comprou 30% da rede Independência, do Paraná, composta por quatro emissoras: canal 12, de Cornélio Procópio; canal 7, de Curitiba; canal 13, de Maringá, e o canal 7, da cidade de Toledo.
A investida garantiu à Universal um poder de influência nas decisões da Independência (comanda a diretoria financeira) e cobertura total do Paraná para a Record.
Dois meses após fechar o negócio no Paraná, a igreja comprou a TV Cabrália, de Itabuna (BA). A emissora pertencia ao ex-deputado Luiz Vianna Neto que, segundo disse à Folha, desistiu de manter uma TV no interior do Estado.
A emissora foi adquirida em nome dos bispos João Batista Ramos da Silva, presidente da Record, e Paulo Roberto da Conceição, do Rio de Janeiro.
A Universal não vê a TV Cabrália apenas como uma emissora de interior, mas como trampolim para atingir a Grande Salvador, onde ela não tem concessão.
Em 94, a igreja obteve autorização do Ministério das Comunicações para instalar retransmissores de alta potência em Salvador e está implantando um sistema de microondas para levar a programação gerada em Itabuna até a capital.
O objetivo é disputar a audiência (e o bolo publicitário) em Salvador como se fosse uma geradora local, com noticiários e programação voltada à capital do Estado.
A terceira investida da Record para ampliação de sua rede própria ocorreu pouco antes da crise desencadeada pelo bispo Von Helder, o que chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida durante culto transmitido pela emissora.
Em setembro, foi fechada a compra de três TVs em Santa Catarina: RCE, de Xanxerê; Cultura, de Florianópolis, e Vale do Itajaí, na cidade de Itajaí.
As emissoras pertenciam aos grupos Cecrisa (fabricante de azulejos) e Triunfo (construção civil).
Segundo Eno Steiner, diretor da Cecrisa, os acionistas da empresa tinham quatro TVs no Estado. Em 91, decidiram concentrar-se no ramo de cerâmica e venderam 50% das ações das TVs para a Triunfo.
No final de setembro, os sócios da Cecrisa entregaram suas ações nas emissoras de Florianópolis, Itajaí e Xanxerê ao grupo Triunfo e venderam a quarta emissora (TV Eldorado, de Criciúma) para o grupo RBS, da família Sirotsky.
Imediatamente, o grupo Triunfo vendeu as três emissoras para a Universal. Formalmente, as empresas ainda pertencem aos antigos sócios, mas a igreja já assumiu o controle. Desde o último dia 3, elas passaram a transmitir a programação da Record.
A Universal administra também, por contrato, a TV Capital, de Brasília, cuja concessão é do ex-deputado Edevaldo Alves da Silva. O contrato vence em junho do 96 e a igreja já negocia a compra da emissora, estimada em US$ 9 milhões.

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